O MASSACRE DAS CRIANÇAS

Vendo, então, Herodes que tinha sido enganado pelos magos, ficou muito irritado e mandou massacrar em Belém e nos seus arredores todos os meninos de dois anos para baixo, conforme o tempo exato que havia indagado dos magos. Cumpriu-se, então, o que foi dito pelo profeta Jeremias: ‘Em Ramá se ouviu uma voz, choro e grandes lamentos: é Raquel a chorar seus filhos; não quer consolação, porque já não existem (ὅτι οὐκ εἰσίν, яко не суть, já não estão)’.” (Mateus 2,16ss)

A Mãe de Deus foi poupada, neste momento, do choro que se passou em Belém, sobre as crianças que “já não existem”. Ela iria chorar o Filho três décadas mais tarde, quando ela o viu morrer em uma cruz, sobre a qual Ele deu Seu último suspiro (Marcos 15,37) e aparentemente “já não estava”.

… Mas na verdade, Ele ainda “estava”. E aí está a “luz” neste quadro escuro, da tristeza inconsolável com a morte prematura de crianças em Belém. O choro e a lamentação da Theotokos na Cruz não é “o fim da história”, – nem o choro de “Raquel” ou das mães em Belém. Porque todos nós ainda “estamos”, como estão nossos entes queridos adormecidos, mesmo quando “morremos”, porque Ele supera nossa(s) morte(s) em Sua ressurreição. Porque nosso sofrimento e morte, com os quais nosso Senhor Jesus Cristo e Sua “família” se deparam, quando Ele entra em nosso mundo, serão vencidos por Ele, depois de Ele próprio atravessá-los.

Mas é preciso esperar. Nós esperamos, conforme “esperamos a ressurreição dos mortos (προσδοκῶ ἀνάστασιν νεκρῶν / expecto resurrectionem mortuorum / чаю воскресения мертвых)”, como professamos, na fé, cada vez que dizemos o Credo. Então que eu espere hoje, na fé pela qual “as mulheres receberam pela ressurreição os seus mortos” (Hebreus 11,35), se sou visitado por uma perda inconsolável, na qual eu mesmo “morro” (ou pelo menos uma parte de mim), assim como as mães em Belém e a Santíssima Theotokos. Porque meu Senhor me traz, uma e outra vez, Vida Nova, conforme continuo a aferrar-me a Ele. “Eu sou a ressurreição e a vida”, Cristo me diz hoje. “Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11,25).

Versão brasileira: João Antunes

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