“Mas, antes de tudo isso, vos lançarão as mãos e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença dos reis e dos governadores, por causa de mim. Isso vos acontecerá para que vos sirva de testemunho (εἰς μαρτύριον). Gravai bem no vosso espírito: não prepareis vossa defesa, porque eu vos darei uma palavra cheia de sabedoria, à qual não poderão resistir nem contradizer os vossos adversários. Sereis entregues até por vossos pais, vossos irmãos, vossos parentes e vossos amigos, e matarão muitos de vós. Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Entretanto, não se perderá um só cabelo de vossa cabeça. É pela vossa paciência (ἐν τῇ ὑπομονῇ ὑμῶν) que alcançareis a vossa salvação.” (Lucas 21,12-19)
Aqui Cristo fala-me sobre o processo doloroso e ainda assim libertador de me tornar-me eu mesmo, — o “eu” que Ele me chama a ser, de acordo com minha vocação. É o “eu” que verdadeiramente vive, em comunhão com a Fonte da Vida, ao invés de apenas existir, cortado d’Ele na escravidão autoimposta ao meramente humano. E surpreendentemente, o processo pelo qual cada vez mais eu fico em pé ereto e “alcanço a minha salvação” não é primariamente a coragem, mas a “paciência” (ou “hypo-mone” em grego, que literalmente significa “permanecer para trás”, ou “sentar-se” e esperar o que Deus envia em seguida). É meu “velho eu” que “se senta e espera” neste processo, e permite-se ser transfigurado, sendo levado como um cordeiro, ante alguns dos “reis e governadores” injustos que acabam por “lançar as mãos” em mim. Na graça da paciência, meu velho eu é levado, como um cordeiro pelo Cordeiro, à transfiguração de agir, falar e Ser verdadeiro, em unidade com Ele.
Que eu não confunda paciência com inatividade. Eu não posso ser “levado”, a confrontar os injustos “reis e governadores” de minha vida, se eu não tomar certas medidas, — caso contrário eu seria “arrastado”, ao invés de “levado”. E uma dessas medidas é eu tomar uma decisão, ou “gravar em meu espírito”, para não agir ou falar ou ficar por conta própria, mas em comunhão com Deus. Então que eu permita que Ele seja Deus na minha vida hoje, e eu entregue as coisas a Ele esta manhã, em alguma oração sincera. Ele pode e me fortalece, para ser o meu verdadeiro eu, mesmo depois de eu ter desviado de Seu caminho. E isso é algo que “todos os cavalos do rei e todos os homens do rei”¹ não podem fazer, então eu troco o medo pela fé esta manhã, e digo, “não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal”. Amém!
¹ referência à canção “All the King’s Horses”, por Karmina.
Versão brasileira: João Antunes
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