INTERPRETAR AS ESCRITURAS “SIMBOLICAMENTE”

… replicou Nicodemos: ‘Como se pode fazer isso?’. Disse Jesus: ‘És doutor em Israel e ignoras estas coisas!… Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho. Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais? Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna’.” (João 3,9-15)

Recebi recentemente um comentário, sobre uma reflexão que postei a respeito da cura do cego em Betsaida (Marcos 8,22-26), na qual relacionei esta cura com a minha própria cegueira e o processo de cura hoje, em Cristo. O comentário é o seguinte: “Obrigado!… Mas a interpretação simbólica não me satisfez. Estou interessado nas verdadeiras razões para essas ações de Cristo”.

Em resposta a este comentário, gostaria de salientar que o significado “simbólico” de um acontecimento no passado da História da Salvação (a palavra “símbolo” proveniente do verbo grego συμβάλλω, “unir”), informa nossa compreensão das “verdadeiras razões” para as ações de Deus no presente. Na exegese eclesial tradicional, a referência cruzada de símbolos relacionados em toda a História da Salvação “une” o maior significado desse passado com o maior significado do presente, revelando que, ao longo do continuum do nosso tempo histórico, há Um Deus que fala a nós, em Seus símbolos preferidos, em Seu idioma. Assim, o próprio Cristo explica “simbolicamente” um acontecimento do passado, na passagem citada acima; a elevação, por Moisés, da serpente de bronze no deserto (Números 21,9), une isso a Seu próprio ser levantado na Cruz. Em outras palavras, Ele está “explicando” (ou “fazendo exegese”, em termos de “exegese” tradicional, ou interpretação das Escrituras) a “razão” de ambos os acontecimentos, em termos do sempre conectado, “razão” ou “Logos” de Deus em toda a história da salvação, —salvar-nos das “picadas” daquela serpente que se elevou em uma árvore no início do tempo, no jardim. Deus intencionalmente, “racionalmente”, tomou esse “símbolo” do Maligno, (da serpente na árvore), e repetidamente apreendeu-o à nossa salvação, ao longo da história.

“És doutor em Israel e ignoras estas coisas!” – o Senhor nos diz hoje, quando nos divorciamos da exegese tradicional da Igreja, e buscamos um significado separado do continuum da História da Salvação, revelado nos repetidos símbolos preferidos da linguagem do nosso Deus. “Nós” falamos do que “nós” sabemos, Cristo diz com a Igreja, a Nicodemos, e damos testemunho do que “nós” vimos, em toda a História da Salvação. Ajuda-nos a ver, Ó Senhor, de acordo com as Escrituras, e glória a Ti.

Versão brasileira: João Antunes

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