“E [depois do Dilúvio] Noé levantou um altar ao Senhor: tomou de todos os animais puros e de todas as aves puras, e ofereceu-os em holocausto ao Senhor sobre o altar. O Senhor respirou um agradável odor, e disse em seu coração: ‘Doravante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do homem – porque os pensamentos do seu coração são maus desde a sua juventude –, e não ferirei mais todos os seres vivos, como o fiz. Enquanto durar a terra, não mais cessarão a sementeira e a colheita, o frio e o calor, o verão e o inverno, o dia e a noite’.” (Gênesis 8,20ss)
A leitura do Gênesis para esta quarta segunda-feira da Quaresma faz-me pensar: o Senhor mudou “em seu coração” com relação à humanidade, porque Ele “respirou um agradável odor” do holocausto de Noé no altar, oferecido imediatamente depois do Dilúvio? Não, porque Deus é atemporal e, portanto, imutável. E Ele sabia, tanto antes quanto depois do dilúvio, que “os pensamentos do coração do homem são maus desde a sua juventude”. Mas na Sagrada Escritura, Ele Se revela a nós através do sistema “simbólico” que é a linguagem humana, ou palavras, que são “simbólicas” (do verbo grego, “sym-ballo” que significa “unir”). As palavras são “símbolos” visíveis familiares para nós, que “unem” a invisível, menos familiar para nós, realidade do Ser atemporal de Deus, com nossa realidade visível, temporal.
Então o que parece ser a “re-ação” de Deus para a “ação” de Noé, de fazer-lhe holocausto, não é uma mudança temporal na atitude, sempre amorosa e misericordiosa, de Deus para conosco, mas uma explicação “simbólica” de como “nós”, na pessoa de Noé, mudamos/desenvolvemos nossa atitude ante Ele, tornando-nos mais abertos e mais gratos a Ele por toda a criação, na luz do “Dilúvio” e da “Arca”. Noé havia sido sempre “justo” ante Deus (Gênesis 6,9), mas agora ele havia sido “testado” tanto pelas “águas” do Dilúvio quanto pela “madeira” da arca, assim como nós, pelo Batismo e pela Cruz. Estes “testes” são instrumentos, redentores e de cura, de Deus para fazer essa “mudança” não n’Ele, mas em nós, ajudando a restabelecer a harmonia inicial com Ele e toda a criação, a “terra” que foi “amaldiçoada” ou privada de “bênção”, por culpa de Adão (cf. Gênesis 3,17 onde Deus diz a Adão: “maldita seja a terra por tua culpa”).
Então as palavras do Gênesis, citadas acima, são símbolos da “nossa” mudança rumo ao propósito que Deus tinha em mente para nós desde o princípio, viver em harmonia com Ele e toda a criação, mas não forçada a nós por Ele, até que/a menos que sejamos “testados”. Sei que é muita coisa para a mente abarcar, mas deixe-me dizer: Graças Te dou, Deus, por me levar a uma mudança positiva, em Ti, pelos instrumentos vivificantes do Batismo e da jornada carregando a Cruz, na “arca” ou “madeira” de Tua Igreja!
Versão brasileira: João Antunes
© 2019, Sr. Vassa Larin
www.coffeewithsistervassa.com