“Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Estando à mesa, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça. Vendo isso, os discípulos disseram indignados: ‘Para que este desperdício? Poderia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres’. Jesus ouviu-os e disse-lhes: ‘Por que molestais esta mulher? É uma ação boa (ἔργον καλὸν) o que ela me fez. Pobres vós tereis sempre convosco. A mim, porém, nem sempre me tereis…’.” (Mateus 26,6-11)
De acordo com outro evangelista, João, foi o traiçoeiro Judas Iscariotes, e não qualquer outro dos “discípulos”, que se opôs ao “desperdício” do caro bálsamo em Cristo, com uma suposta preocupação com “os pobres” (João 12,4-6). Isso me recorda das objeções, expressas por alguns em nossos dias, em gastar milhões de dólares para reconstruir a catedral de Notre-Dame, em Paris. Esse dinheiro, dizem eles, poderia ser melhor gasto com “os pobres”, ou seres humanos que estão “famintos” e “necessitados”.
Mas todos estamos “famintos” e “necessitados” — em mais de uma maneira. Porque os seres humanos não “vivem” “só de pão” (Lucas 4,4). Note-se que hoje, no país relativamente próspero dos Estados Unidos, na lista das principais causas de morte, o suicídio é muito mais alto na lista do que a fome (física). Eu estou refletindo que nós também precisamos das “palavras” doadoras de vida e outros “símbolos” de Deus, revelados a nós em grandes realizações da arte; na literatura, música, pintura, arquitetura e até mesmo esportes, que nos inspiram a ser “melhores”. Sabemos disso, e é por isso que alguns dos membros mais bem pagos de nossa sociedade são os músicos, atores, autores e atletas que estão no topo.
Assim, enquanto somos, como cristãos, realmente chamados a alimentar os famintos, vestir os nus, visitar os encarcerados, etc., somos chamados a fazer isso de mais de uma maneira, de acordo com nossas “vocações” específicas. E essas “vocações”, ou “chamados”, a servir são revelados a cada um de nós especificamente, nas situações específicas e pessoas “necessitadas”, que se apresentam a nós na vizinhança específica de nosso próprio “alcance”. Não é dos “pobres” de forma abstrata que “teremos sempre conosco”, em todos os países do mundo, aos quais todos não poderíamos ajudar, ou mesmo conhecer. É, antes de tudo, a coisa ou pessoa que cruza o meu caminho hoje, que eu “nem sempre terei”, e a quem eu sou chamado a “servir” das maneiras específicas que eu puder, de acordo com minha “vocação” hoje. Então que eu “ajude” e “sirva” o “necessitado” da minha vizinhança, porque Cristo vê isso como “uma ação boa” que eu faço “a Ele”, no meu hoje.
Versão brasileira: João Antunes
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