COMO “FUNCIONAM” OS CORDÕES DE ORAÇÃO?

Revesti-vos da armadura de Deus, para que possais resistir às ciladas do demônio. Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares.” (Efésios 6,11s)

No rito da tonsura monástica, ao monge/monja é entregue não apenas uma cruz, como um “escudo da fé”, mas também um cordão de oração (“komvoschoinion” em grego; “chotki” em russo), como uma “espada do Espírito”. Note-se que este último é muitas vezes (mal) entendido como uma mera calculadora, ajudando-nos na “contagem” de orações ou prostrações. Mas na literatura monástica e nos ritos de tonsura, ele é mais do que isso; ele é uma “espada do Espírito”, porque “nos ajuda a vencer a distração enquanto oramos e a afastar os maus pensamentos da alma”. Pediram-me para explicar como/por que isso “funciona” ou não.

Em termos modernos, usar um cordão de oração pode ser comparado a um “deliberado não parar quieto”, como o apertar uma bola de borracha, rabiscar, andar de um lado para o outro ou apertar o botão de uma caneta retrátil repetidamente, enquanto se está concentrado em alguma outra tarefa principal. Estudos recentes mostram que, para muitas pessoas (embora não para todas as pessoas), uma atividade que usa um sentido diferente do exigido para a tarefa principal ajuda a concentrar o cérebro na tarefa principal. A atividade sensório-motora aumenta os níveis dos neurotransmissores dopamina e norepinefrina (da mesma forma que os medicamentos para TDAH fazem), os quais aguçam o foco e aumentam a atenção. Mas, por existir diversidade neural entre os seres humanos, alguns de nós são bem sucedidos apenas quando fazem uma coisa de cada vez. Alguns de nós sentam-se completamente imóveis enquanto ouvem um longo concerto, enquanto outros de nós tamborilam no joelho ou até mesmo tricotam. Voltando aos cordões de oração, algumas pessoas “não param quietas” com eles durante um ofício litúrgico, enquanto outras acham que isso as distraem da Liturgia. Eu acho que eles podem ser mais ou menos eficazes, dependendo da composição neural. Pessoalmente, acho o corão de oração muito útil na luta contra o vício ao meu telefone, normalmente quando eu preciso desligá-lo, por exemplo, à noite. Vou para a cama com o cordão de oração na mão e coloco o telefone em outro cômodo, então não sou tentado a dar uma olhadela no telefone à noite. (Porque descobri que o telefone se torna facilmente uma espécie de “objeto para não parar quieto” viciante, mas esse é um tópico à parte.)

De qualquer forma, conforme aqueles de nós no Calendário Juliano Tradicional celebram a festa de um querido santo monástico, São Serafim de Sarov, e aqueles de nós no Calendário Juliano Revisado começam o Jejum da Dormição, digo: Graças Te dou, Deus, por todas as ferramentas à nossa disposição em nossa bela tradição, que nos ajudam a nos concentrar em Ti.

Versão brasileira: João Antunes

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