CHAMADOS À LIBERDADE

Cada um permaneça na profissão (ἐν τῇ κλήσει) em que foi chamado por Deus. Eras escravo, quando Deus te chamou? Não te preocupes disto. Mesmo que possas tornar-te livre, antes cuida de aproveitar melhor o teu chamado. Pois o escravo, que foi chamado pelo Senhor, conquistou a liberdade do Senhor. Da mesma forma, quem era livre por ocasião do chamado, fez-se escravo de Cristo. Por alto preço fostes comprados, não vos torneis escravos de homens. Irmãos, cada um permaneça diante de Deus na condição em que estava quando Deus o chamou (ἐν ᾧ ἐκλήθη).“ (1 Coríntios 7,20-24)

Esta é uma passagem difícil sobre nossa “vocação”, ou “chamado” de Deus. Mais especificamente, ela é sobre 1. O fato de que Deus nos “chamou” e 2. O lugar ou estado em que estávamos, quando Ele fez isso. E São Paulo diz, certamente, que se você estivesse em um lugar ruim naquela época, quando Ele chamou você, e você estivesse em condição de mudar isso agora, então “cuide de aproveitar melhor o seu chamado”. Mas se você não puder, então não se preocupe. Seja um “liberto do Senhor” e identifique-se como pertencente a Ele, com todas as consequências dessa liberdade em Seu Espírito, em vez de pertencer a outros seres humanos, como “escravo de homens”.

Agora, percebo que essas palavras vêm de uma época em que a muito real escravidão física dos seres humanos, comprados e vendidos por outros seres humanos, era horrivelmente viva e aceita. E ainda o é, no tráfico humano que acontece em nosso mundo, às vezes até na porta ao lado, sem o nosso conhecimento. Mas eu não quero fazer luz sobre esse fato.

Eu gostaria de ressaltar a relevância dessa passagem mesmo em minha própria vida relativamente abundante, na qual, pela graça de Deus, eu não fui escravizado por outros dessa forma. Embora eu possa me tornar “escravo” por minhas próprias grandes e pequenas decisões, no dia a dia, se eu escorregar para o querer agradar as pessoas e/ou a codependência. Isso pode ser um tipo sutil de “escravidão”, no qual a principal autoridade de Deus sobre mim é anulada pelas expectativas e demandas humanas de mim (sejam reais ou apenas imaginadas por mim). Então, a advertência de São Paulo também é relevante para mim: “Não se torne escravo dos homens”. Eu não preciso (necessariamente) mudar minhas circunstâncias externas, mesmo que sejam difíceis, mas eu preciso ter minha pertença “interior” ao meu Novo Empregador, meu Pai no céu, claro e direto. E a solução de São Paulo para as nossas várias formas de “escravidão” é simples, mesmo que não seja fácil: “cada um permaneça diante de Deus na condição em que estava quando Deus o chamou”. Em outras palavras, que eu permaneça “com Deus”, como alguém que pertence a Ele, a Seu “time”, mesmo que minha vida me obrigue a prestar algum serviço ao próximo, até mesmo a um próximo difícil. “Venha a nós o Teu reino”, digo a Ele hoje, mesmo nas difíceis relações da minha vida, nas quais posso ser obrigado a permanecer, mas na qual escolho pertencer somente a Ti.

Versão brasileira: João Antunes

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