“Depois, ele partiu dali e foi para a sua pátria, seguido de seus discípulos. Quando chegou o dia de sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos o ouviam e, tomados de admiração, diziam: ‘Donde lhe vem isso? Que sabedoria é essa que lhe foi dada, e como se operam por suas mãos tão grandes milagres (δυνάμεις τοιαῦται)? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs?’. E ficaram perplexos a seu respeito. Mas Jesus disse-lhes: ‘Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e na sua própria casa’. Não pôde fazer ali milagre algum (οὐδεμίαν δύναμιν). Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos.” (Marcos 6,1-5)
O Evangelista, São Marcos, está sendo sarcástico aqui, quando diz que Jesus não podia fazer “milagres” em Sua própria pátria, e que curou “apenas alguns poucos enfermos”? Isso realmente não é nada de mais? Apenas alguns enfermos totalmente curados… Isso, por acaso, não é uma grande coisa?! Sim, acho que o Evangelista está sendo sarcástico, sobre a atitude desconsiderada do próprio povo de Cristo, com relação aos seus “milagres”. Eles reconhecem, inicialmente, Seus milagres, dizendo, “como se operam por suas mãos tão grandes milagres!”. Mas então eles racionalizam, “Não é ele o carpinteiro…?” Ele não é apenas um de nós? E finalmente, nesta base, eles “ficaram perplexos” (ἐσκανδαλίζοντο) a seu respeito, o que basicamente significa, que balançaram a cabeça e disseram, “Naaah”. Estas obras não significam nada para “nós”, pois elas são realizadas por um de “nós”.
E de alguma forma é duro para “nós” vermos “um de nós” ser melhor/mais poderoso do que o resto de nós, pois levanta a questão do por quê o resto de nós não se torna melhor/mais poderoso, tendo vindo das mesmas circunstâncias. Claro, é o poder de Deus que coloca qualquer um de nós em uma posição/situação “melhor” ou “mais poderosa”, a partir da qual os demais podem ser auxiliados ou beneficiados. Mas essas pessoas se limitam a uma visão meramente humana, sem gratidão a Deus por Seus dons no meio deles. Ao recusar o poder de Deus em sua forma de enxergar as coisas, eles acabaram projetando também em Seu Filho sua auto-aversão humana, em relação a si mesmos e de uns para com os outros.
Hoje que eu não projete em Deus, ou em qualquer um de Seus filhos ou filhas, minha auto-aversão humana, como essas pessoas fizeram. O Filho de Deus, de fato, Se tornou “Um de nós”, mas Ele é, de fato, “melhor” do que nós, em Sua divindade. E “nós” podemos ser, e somos, “melhores” do que nós mesmos, n’Ele. Então que eu aceite Seu auxílio e cura, que não me intimida, nem me humilha, também quando isso vem a mim através de Seus servos em meu meio. Graças a Ti, Deus, por Teus “milagres” e Teus “obreiros” em minha pátria, em minha própria família e em minha própria casa. Que eu Te reconheça, e Te aceite, quando vieres a mim por meio do próximo. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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