O CAMINHO DA CRUZ

“Moisés fez partir os israelitas do mar Vermelho e os dirigiu para o deserto de Sur. Caminharam três dias no deserto, sem encontrar água. Chegaram a Mara, onde não puderam beber de sua água, porque era amarga, de onde o nome de Mara que deram a esse lugar. Então o povo murmurou contra Moisés: ‘Que havemos de beber?’. Moisés clamou ao Senhor, e o Senhor indicou-lhe um madeiro que ele jogou na água. E esta tornou-se doce.” (Êxodo 15,22-25a)

Esta passagem é da primeira leitura das Vésperas, na grande festa da Exaltação da Santa Cruz, celebrada hoje (Calendário Juliano Revisado). O que essa passagem tem a ver com a festa? O “madeiro” que Moisés joga na água amarga, e que a torna doce, é tradicionalmente vista como uma imagem da Cruz “vivificante”.

A própria água, essencial para a nossa vida biológica, é uma imagem da vida. Mas nossa vida, em termos meramente biológicos, desprovida de Cristo e de Sua jornada carregando a cruz, pode ser amarga. As pequenas e grandes dores pelas quais inevitavelmente passamos, quando fazemos a transição de uma situação de vida para outra, podem ser pura amargura para nós, sem a Cruz. Porque de uma perspectiva sem Cristo, sem Cruz, elas não têm sentido. E a falta de sentido, como observou Carl Jung, é um dos maiores traumas da psique moderna: Hoje em dia temos tendência a temer, disse Jung, que nossas vidas não tenham sentido.

Mas, à luz da co-paixão e co-sofrimento conosco do Deus-Homem, Que venceu todo o nosso sofrimento e trevas, até a morte em uma cruz e descida ao nosso inferno, recebemos novo sentido e novo propósito em nosso Novo Companheiro, nosso Senhor Jesus Cristo, Que nos traz nova vida através de Sua morte. É certo que Ele não nos explica o “sentido” de todo o nosso sofrimento. Em vez disso, Ele, que é o Logos eterno, o próprio Sentido, assume, em nossos sapatos, todas as nossas trevas e sofrimentos, vencendo-os em Sua humanidade, e depois superando-os em Sua divindade, pisando a morte “pela morte”. Em comunhão com Ele, seguimos Seu caminho, de vencer as coisas, de acordo com nossas responsabilidades, em vez de evitá-las. E então Ele faz o resto, por Sua graça, vencendo em nós nossas ansiedades e desânimos meramente humanos, nos quais facilmente escorregamos quando por conta própria, em auto-suficiência, tentamos carregar todos os altos e baixos do mundo em nossos próprios ombros. N’Ele, descubro a “leveza” e a “luz” do Seu Caminho, se eu apenas tentar; se eu tentar o Seu “como”, em vez de perguntar o meu “por que”, e me conectar com Ele hoje. “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo”, Ele me diz hoje, “e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mateus 11,28ss). Então, que eu experimente fazer isso hoje e encontrar repouso para a minha alma.

Versão brasileira: João Antunes

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