“Asseguro-vos, irmãos, que o Evangelho pregado por mim não tem nada de humano. Não o recebi nem o aprendi de homem algum, mas mediante uma revelação de Jesus Cristo. Certamente ouvistes falar de como outrora eu vivia no judaísmo, com que excesso perseguia a Igreja de Deus e a assolava; avantajava-me no judaísmo a muitos dos meus companheiros de idade e nação, extremamente zeloso das tradições de meus pais. Mas, quando aprouve àquele que me reservou desde o seio de minha mãe e me chamou pela sua graça, para revelar seu Filho em minha pessoa, a fim de que eu o tornasse conhecido entre os gentios, imediatamente, sem consultar a ninguém, sem ir a Jerusalém para ver os que eram apóstolos antes de mim, parti para a Arábia…” (Gálatas 1,11-17)
É sempre tão surpreendente e tocante para mim, como o grande apóstolo Paulo defende sua ortodoxia ou credibilidade, como pregador do evangelho, aos Gálatas. Porque eles “ouviram falar” de como “outrora ele vivia”, e como ele fez todas aquelas coisas e “com que excesso perseguia a Igreja de Deus”, e até mesmo “a assolava”. O que é tão desarmante e inesperado em sua autodefesa, eu acho, é como ele apela à sua vocação, à sua vocação dada por Deus, e não a quaisquer relações humanas, associações, ou mesmo “tradições” — mesmo as dos seus “pais”. Ele se deixa bem aberto e vulnerável ao cinismo e à crítica contemporânea “tradicional”, sem o escudo de referências humanas ou carimbos de aprovação.
A experiência do grande apóstolo Paulo é única, nunca mais vivida na História da Salvação? Claro que não. E é por isso que ele a partilha conosco, e é-nos transmitida, para a nossa edificação e inspiração. São Paulo nos mostra como o chamado de Deus para nós às vezes não é apoiado pelos bastiões da família, da sociedade, ou qualquer outra “carne e sangue”.
Por isso, ao fazermos a transição para o Ano Novo, que eu resolva ouvir um pouco mais a voz de Deus, sobre o que devo pensar ou fazer ou dizer em minhas responsabilidades diárias, em vez de me empenhar em agradar às pessoas, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Eu sei que é “mais fácil falar do que fazer” — mas assim é tudo na vida. Que eu me reconecte com Deus, e ouça a Sua voz hoje, em minha “con-sciência” dada por Deus (de “con” e “scire”, que significa “saber com”, ou estar a par de, o conhecimento de Outro), para que eu possa ser liberto para seguir a minha vocação, de acordo com a vontade de Deus para mim.
Versão brasileira: João Antunes
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