SOBRE SEXO & PODER

Os escribas e os fariseus trouxeram-lhe uma mulher que fora apanhada em adultério. Puseram-na no meio da multidão e disseram a Jesus: ‘Mestre, agora mesmo esta mulher foi apanhada em adultério. Moisés mandou-nos na Lei que apedrejássemos tais mulheres (τὰς τοιαύτας). Que dizes tu sobre isso?’. Perguntavam-lhe isso, a fim de pô-lo à prova e poderem acusá-lo. Jesus, porém, se inclinou para a frente e escrevia com o dedo na terra. Como eles insistissem, ergueu-se e disse-lhes: ‘Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra’. Inclinando-se novamente, escrevia na terra. A essas palavras, sentindo-se acusados pela sua própria consciência, eles se foram retirando um por um, até o último, a começar pelos mais idosos, de sorte que Jesus ficou sozinho, com a mulher diante dele. Então, ele se ergueu e vendo ali apenas a mulher, perguntou-lhe: ‘Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?’. Respondeu ela: ‘Ninguém, Senhor’. Disse-lhe então Jesus: ‘Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar’.” (João 8,3-11)

Há um toque de machismo na afirmação dos escribas e fariseus, de que a Lei ordenava o apedrejamento de “tais mulheres”. Porque a Lei, na verdade, falava da morte tanto do homem como da mulher envolvidos em adultério (Levítico 20,10; Deuteronômio 22,22-24). Mas não vemos aqui nenhuma evidência de que algum homem tenha sido levado a julgamento. Apenas vemos homens, escribas e fariseus, arrastando uma mulher, a quem tinham “apanhado”, pelo poder que exerciam, para o “meio” da humilhação pública.

Como alguns comentaristas hipotetizaram, Jesus talvez tenha escrito com o dedo alguns dos pecados (sexuais), dos quais os próprios escribas e fariseus fossem culpados. Seja como for, o pecado desses homens estava relacionado principalmente a poder, enquanto que o pecado da mulher estava relacionado principalmente a sexo. Mesmo que seja difícil separar os dois, em muitos confrontos entre homens e mulheres (como os de nossos dias, envolvendo assédio sexual/má conduta), nosso Senhor exonera a mulher, totalmente impotente na situação em que foi apresentada a Jesus, pelos homens cheios de poder que procuravam sua morte diante d’Ele. Porque o abuso/desvio de poder deles, aos Seus olhos, era aparentemente mais insidioso, e mais importante verificar, do que o abuso/desvio de sexo, na situação dela. O último, (o sexo), era um dom comum a todos, tanto para esta mulher como para os seus acusadores, enquanto que o primeiro, (o poder), era possuído apenas por uns poucos, como estes homens com autoridade religiosa. Assim, a responsabilidade e a prestação de contas era mais grave, por parte das autoridades religiosas, dos escribas e dos fariseus. Mas nosso Senhor também os deixou escapar com bastante facilidade, até onde posso ver, deixando-os ir embora, porque, como homens de seu tempo, eles não sabiam nada melhor.

Senhor, tende piedade de todos nós, em questões de sexo e poder, e em questões em que ambos se entrelaçam. Ajuda-nos a empunhar todos os Teus dons de acordo com a Tua vontade e Teu amor por nós, em amor e compaixão uns pelos outros. Amén!

Versão brasileira: João Antunes

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