“No ano da morte do rei Ozias, eu vi o Senhor sentado num trono muito elevado; as franjas de seu manto enchiam o templo. Os serafins se mantinham junto dele. Cada um deles tinha seis asas; com um par de asas velavam a face; com outro cobriam os pés; e, com o terceiro, voavam. Suas vozes se revezavam e diziam: ‘Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória!’. A este brado as portas estremeceram em seus gonzos e a casa encheu-se de fumo. ‘Ai de mim’ – gritava eu –. ‘Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!’. Porém, um dos serafins voou em minha direção; trazia na mão uma brasa viva, que tinha tomado do altar com uma tenaz. Aplicou-a na minha boca e disse: ‘Tendo esta brasa tocado teus lábios, teu pecado foi tirado, e tua falta, apagada’. Ouvi então a voz do Senhor que dizia: ‘Quem enviarei eu? E quem irá por nós?’. ‘Eis-me aqui’ – disse eu –, ‘enviai-me’.” (Isaías 6,1-8)
Esta passagem, lida hoje no ofício da Sexta Hora, descreve a experiência do profeta Isaías, cerca de oito séculos antes de o Senhor instituir, em Sua Ceia Mística, a Eucaristia para nós. Mas na Divina Liturgia, nos é dado participar da experiência de Isaías, melhor dizendo, nos é dado experimentar “mais” do que ele, não só quando cantamos com os serafins, “Santo, santo, santo…”, mas quando recebemos não a “brasa viva” de Isaías, que apenas prefigurava os Dons Eucarísticos, mas “o verdadeiro” Corpo e Sangue de Cristo. E depois estamos prontos para sair, para sermos enviados, para “a liturgia depois da liturgia”, quando compartilhamos nossa experiência do Deus Trino com nosso mundo.
Esta manhã, na segunda quinta-feira da Quaresma, que eu ouça a voz do Senhor, mais uma vez, chamando-me: “Quem enviarei Eu? E quem irá por Nós?”. Que eu esteja “aqui”, em Sua presença, e focado nesse chamado ao longo do meu dia, em vez de “em nenhum lugar”, a deriva como um pequeno barco, perdido em meio a vozes e preocupações meramente humanas. “Eis-me aqui, Senhor!” — digo a Deus esta manhã —. “Enviai-me”.
Versão brasileira: João Antunes
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