PRÉ-FESTA DA ANUNCIAÇÃO

Jacó, partindo de Bersabeia, tomou o caminho de Harã. Chegou a um lugar, e ali passou a noite, porque o sol já se tinha posto. Serviu-se como travesseiro de uma das pedras que ali se encontravam, e dormiu naquele mesmo lugar. E teve um sonho: via uma escada, que, apoiando-se na terra, tocava com o cimo o céu; e anjos de Deus subiam e desciam pela escada. No alto estava o Senhor, que lhe dizia: ‘Eu sou o Senhor, o Deus de Abraão, teu pai e o Deus de Isaac; darei a ti e à tua descendência a terra em que estás deitado. Tua posteridade será tão numerosa como os grãos de poeira no solo; tu te estenderás, para o ocidente e para o oriente, para o norte e para o meio-dia, e todas as famílias da terra serão benditas em ti e em tua posteridade. Estou contigo, para te guardar aonde quer que fores, e te reconduzirei a esta terra, e não te abandonarei sem ter cumprido o que te prometi’.” (Gênesis 28,10-15)

A narrativa em Gênesis 28 sobre “a escada de Jacó” é uma das nossas leituras para as festas em honra da Mãe de Deus. Por que esta leitura, especificamente nas festas da Theotokos? Porque a Igreja tradicionalmente “reconhece” a Theotokos na “escada” que liga a terra ao céu, revelada a Jacó em um sonho. O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó é o mesmo Deus que escolhe entre seus muitos descendentes, e nos revela a todos, não em sonho, mas na carne, uma pobre menina judia de Nazaré sem máquina de lavar roupa, para ser a Mãe de Seu Filho.

Ao louvarmos a Bem-Aventurada entre as mulheres como a “escada celestial” e “porta do céu”, notamos também que a Virgem Santíssima foi uma escada “apoiada na terra”, com os pés firmemente plantados no chão, percorrendo a jornada carregando a cruz. Suas muitas dores e provações nessa viagem, começando no templo em Jerusalém, onde a pequena Maria foi deixada por Joaquim e Ana aos três anos de idade; e as provações posteriores durante a gravidez impossível de se explicar na casa de José, e o resto, a todas as quais ela disse “Assim seja”: … em Belém, depois no Egito, depois em Nazaré, e finalmente aos pés da cruz do seu Filho, no meio de uma multidão hostil, — todo este sofrimento suportado pela Theotokos explica-me porque é que os fiéis ao longo dos tempos a acharam muito acessível ou disponível, particularmente em tempos difíceis. Tal como aqui, no centro de uma Viena fechada, reparei que as pessoas paravam nesta estátua da Marienbrücke (a “Ponte de Maria”) e rezavam tranquilamente, fazendo o sinal da cruz, e depois andavam adiante. Encontra-se paz ao ver o seu olhar materno, que parece estar dizendo: “Assim seja”. E há sempre aqui uma vela acesa, deixada por alguém, e flores frescas.

Sei que isto parece um pouco brega hoje, mas vou dizê-lo assim mesmo: Obrigado, Mãe de Deus, por nos teres sido mãe, em tempos de dificuldades. E por dizeres palavras de sabedoria: Assim seja, Assim seja.

Versão brasileira: João Antunes

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