PATERNALIDADE & SOBRE-PATERNALIDADE

Mas os judeus não quiseram admitir que aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a vista, até que chamaram seus pais. E os interrogaram: ‘É este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu cego? Pois como é que agora vê?’. Seus pais responderam: ‘Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. Mas não sabemos como agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade. Que ele mesmo explique’. Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo.” (João 9,18-22)

Será que os pais do cego curado por Jesus colocam seu filho na fogueira, dizendo: “Perguntai-o a ele. Tem idade…”? Talvez, mas será isso uma coisa má?

Em nossos dias, os progenitores são frequentemente sobrecarregados com a sobre-paternalidade e ainda assumem a responsabilidade pelas vidas (e custos de vida) de suas crianças de 20+ e 30+ anos. Em parte devido à popularização da psicologia freudiana, assumimos muitas vezes que todos os nossos “problemas”, também na nossa vida adulta, provêm da nossa infância, ou seja, dos nossos progenitores e da sua paternalidade. Esta visão não só coloca um peso insuportável nos ombros dos progenitores e no seu sucesso ou fracasso “parental”, como se toda vez que suas crias fizessem alguma coisa isso fosse de sua responsabilidade; também esvazia qualquer uma das nossas expectativas de nós mesmos como adultos, em nossas capacidades de crescimento ou mudança, como adultos. Mas, como Carl Jung observou, — quando lamentou “a era da criança” em que vivemos, e nas suas importantes revisões do trabalho de Freud, — enquanto nós certamente temos “questões” que provêm dos nossos pais, — nós podemos fazer e fazemos mudanças, e crescemos, e experimentamos influências formativas, também em nossa fase adulta.

Por isso, que eu me permita a mim e aos outros crescer e mudar, também em nossa idade adulta, no entanto e independentemente dos nossos pais serem ou terem sido. Senhor, dai-me a graça de aceitar as coisas que não posso mudar, tanto do meu passado como do meu presente; a coragem de mudar as coisas que posso mudar, hoje; e a sabedoria de saber a diferença.

Versão brasileira: João Antunes

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