A ARTE DA MEDICINA COMO SANTIFICADORA

d’As Cartas de São Barsanúfio e João, séc. VI:
327. Pergunta da mesma pessoa ao Grande Ancião: ‘Já que me testaste e me encontraste capaz deste serviço no hospital, declara-me, pai, se devo ler alguns livros de medicina e praticá-los sozinho, ou ficar despreocupado e evitar tais assuntos como distrações para o intelecto e como origem à vanglória para minha alma, já que não estou vigilante. Eu ficaria satisfeito com o conhecimento que já tenho e oferecer cura com óleo, fogo, pomadas e outras coisas tão simples como as que são usadas por aqueles que não leem livros de medicina. O que devo, então, fazer? Pois o meu coração treme perante este ministério, temendo que eu possa cometer erros, acrescentando assim mais pecados às minhas paixões’.
Resposta do Grande Ancião: ‘Uma vez que ainda não atingimos a perfeição, para nos livrarmos inteiramente do cativeiro das paixões, é benéfico que nos debrucemos sobre questões médicas em vez de paixões. Contudo, não devemos depositar toda nossa confiança nestas, mas apenas no Deus que concede a morte e a vida, que diz: ‘Eu ferirei, e Eu curarei’. Quando leres estes livros e perguntares a outros sobre estes assuntos, não te esqueças que sem Deus não pode haver cura. Aquele que se aplica à medicina deve fazê-lo em nome de Deus, e Deus virá em seu auxílio. A arte da medicina não impede que se pratique a piedade; deve-se considerar a prática da medicina da mesma forma que o trabalho manual dos irmãos. Faças o que fizeres com temor a Deus, e serás protegido através das orações dos santos. Amén’.

O que São Barsanúfio de Gaza (“o Grande Ancião”) diz aqui é que, tal como o “trabalho manual”, quando feito com temor de Deus, é santificante, (ou seja, é protegido “através das orações dos santos”), também o é a arte da medicina, praticada por aqueles que “leem livros de medicina”. E ambas são benéficas para nós, “uma vez que ainda não atingimos a perfeição”. Não precisaríamos de nenhum dos dois, se estivéssemos livres “do cativeiro das paixões”, como eram Adão e Eva antes da Queda, e antes de Deus ter dado a Adão a vocação curativa para ganhar o seu sustento “com trabalhos penosos” (Gênesis 3,17).

Sabemos também que a arte da medicina pode santificar/santifica, porque temos uma categoria de santos conhecida como os Médicos “Anargyroi” (que não aceitam dinheiro/que atendem os doentes sem cobrar nada). É uma vocação dada por Deus, que, como qualquer outra vocação, “não impede a prática da piedade”, e exige trabalho. Assim, ao pensar nisto na era Covid-19, digo, Deus abençoe o trabalho e o conhecimento de nossos médicos, trabalho inevitável em nosso mundo decaído, e que sejamos abençoados, em Seu nome, pelo seu trabalho e conhecimento. E não apenas “por aqueles que não leem livros de medicina”.

Versão brasileira: João Antunes

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