O OPRÓBRIO DA ESTERILIDADE

Pela tua santa natividade, ó Pura, / Joaquim e Ana foram libertos do opróbrio da esterilidade (ὀνειδισμοῦ ἀτεκνίας) / e Adão e Eva, da corrupção da morte. / Teu povo, salvo da escravidão de pecado / te festeja, exclamando: a estéril dá à luz, / a mãe de Deus que alimenta nossa vida!” (Kondakion da Natividade da Theotokos)

Conforme aqueles que seguem o Calendário Juliano Revisado [Calendário Gregoriano] celebram a grande festa da Natividade da Theotokos, nossa atenção é direcionada para todo o tópico do “opróbio da esterilidade” [da censura pela falta de filhos], suportado durante décadas pelos pais da Santa Virgem, Joaquim e Ana. Eles foram libertos desta “vergonha”, tal como nós fomos libertos da “culpa” do pecado, pelo nascimento daquela que dá à luz Deus, a filha “única” de um casamento que resistiu mesmo quando era “censurado”.

Muitos de nós podem identificar-se, em algum nível, tanto com a “culpa” como com a “censura” (muitas vezes a partir das vozes dentro das nossas próprias cabeças) de sermos improdutivos, ou não sermos suficientemente produtivos, da forma como nós ou os outros poderiam esperar que fôssemos. Não “fazemos” o suficiente; não “ganhamos” o suficiente (dinheiro, por exemplo); procrastinamos, e negligenciamos, e acabamos por não checar todos os itens da nossa lista de coisas “A Fazer”, no final do dia. Ou talvez estejamos solteiros ou divorciados, e sentimos que não “produzimos” a família que “deveríamos” ter produzido. O que fazer, com a culpa humana e a constante “censura” que podemos carregar por aí, como resultado deste estado de coisas?

Duas coisas: 1. Ter fé, e 2. Ter gratidão. Abraçamos a fé num Deus que produz nova vida a partir de distintos lugares “estéreis” e inesperados, em Seu próprio tempo, – por exemplo, do ventre de uma Virgem, e de um Sepulcro de pedra bem na saída de Jerusalém. Confiando n´Ele, podemos avançar, e avançamos, mesmo que o nosso crescimento não seja perceptível, ou suficientemente rápido, para as nossas mentes neste momento. E podemos abraçar a gratidão pelas coisas como elas são, neste momento, no aqui e agora, no realismo gentil que é a humildade, em vez de olharmos para o abismo que nos separa de nossos “deveria ter feito” e “deve ser feito”, em constante insatisfação. Porque, como se diz: O ontem é história, o amanhã é um mistério, mas o hoje é uma dádiva, – é por isso que se chama “presente”.

O pão nosso de cada dia nos dai “hoje”, digo hoje a Deus, e perdoai-nos as nossas dívidas, essas culpas e censuras que carregamos por aí, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Pelas intercessões da Santa Mãe de Deus, ó Salvador, salvai-nos!

Versão brasileira: João Antunes

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