O ESCÂNDALO DA CRUZ - Café com a Irmã Vassa

“Se é verdade, irmãos, que ainda prego a circuncisão, por que, então, sou perseguido? Assim o escândalo da cruz (τὸ σκάνδαλον τοῦ σταυροῦ) teria cessado! Oxalá acabem por mutilar-se os que vos inquietam! Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade, porque toda a Lei se encerra num só preceito: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Mas, se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros. Digo, pois: deixai-vos conduzir pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis. Se, porém, vos deixais guiar pelo Espírito, não estais sob a Lei.” (Gálatas 5,11-18)

Aqueles que “inquietavam” os Gálatas estavam arrastando-os para discussões e preocupações polêmicas, mordazes e, em última análise, destrutivas para a igreja. Estas eram preocupações não do Espírito, mas da carne; preocupações sobre (os aspectos exteriores d)a Lei, tornada obsoleta pelo “escândalo da cruz”. São Paulo exorta-os, e a nós, quando somos arrastados para batalhas desnecessárias uns contra os outros, sobre as questões acaloradas do dia, e longe do escândalo da Cruz e de sua libertadora “condução no Espírito”: fugir para o terreno mais alto, diz ele, de “fazermo-nos servos uns dos outros pela caridade”.

Que eu não me deixe “inquietar”, nem me deixe intimidar por preocupações que são da carne, por mais nobres ou justas ou patrióticas que pareçam neste momento. Pois “fostes chamados à liberdade”, recorda-me hoje o Apóstolo. Sou livre de decidir amar, tanto a mim como ao meu próximo, e ao meu próximo como a mim mesmo, em vez de ficar preso na ira. “Todo homem deve ser pronto para ouvir, porém tardo para falar e tardo para se irar; porque a ira do homem não cumpre a justiça de Deus” (Tiago 1,19b-20).

Versão brasileira: João Antunes