DOR DA PERDA & FÉ

Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para ungir Jesus. E no primeiro dia da semana, foram muito cedo ao sepulcro, mal o sol havia despontado. E diziam entre si: ‘Quem removerá a pedra do sepulcro para nós?’. Levantando os olhos, elas viram removida a pedra, que era muito grande. Entrando no sepulcro, viram, sentado do lado direito, um jovem, vestido de roupas brancas, e assustaram-se. Ele lhes falou: ‘Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou, já não está aqui. Eis o lugar onde o depositaram. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vos precede na Galileia. Lá o vereis como vos disse’. Elas saíram do sepulcro e fugiram trêmulas e amedrontadas. E a ninguém disseram coisa alguma por causa do medo.” (Marcos 16,1-8)

Não é a fé, mas o amor, que leva as mulheres até o Sepulcro naquela manhã ensolarada de domingo, há dois milênios. Elas pretendem realizar um ato final de amor por seu Mestre falecido; ungir Seu Corpo de acordo com os tradicionais costumes judaicos de enterro. Em sua tristeza, elas não têm fé no que o próprio Jesus disse sobre Sua ressurreição, pouco antes de Sua paixão. E mesmo agora, quando o anjo lhes dá a boa nova da ressurreição, a primeira reação das mulheres não é de alegria, mas de medo. No entanto, em breve se recordarão, apenas o suficiente para “ir e dizer” a boa nova aos outros (Marcos 16,9ss), à medida que começam a substituir o medo pela fé.

Esta segunda-feira, que é o Dia de Comemoração dos Fiéis Defuntos no Cristianismo Ocidental, (e também o dia em que o meu mentor, Pe Robert Taft, morreu há dois anos, às 4h05 da manhã de sexta-feira, 2 de novembro de 2018), estou refletindo na jornada das Mulheres Portadoras de Aromas naquela manhã ensolarada, desde o amor enlutado até à fé. Essa história recorda-me que o amor pode abrir as portas à fé. A dor pela perda de um ente querido falecido pode “remover a pedra” no coração, que impede que se veja o poder invisível de Deus, vencedor da morte. Mesmo aqueles que não acreditam no reino invisível da vida após a morte podem aproximar-se da fé, através do amor muito visível e vivo pelo falecido agora invisível. Se alguém pode “ver” como sua relação com o falecido subsiste, através da realidade invisível que é o amor, mesmo depois da morte, então talvez possa vir a “ver” e aceitar outras realidades invisíveis, tornadas visíveis para nós por meio da fé, como a nossa “relação” ou comunhão com o Deus vivo e amoroso. “Amemo-nos uns aos outros, para que confessemos em unidade de espírito” a Fonte do Amor, que nos liberta dos nossos sepulcros de dor, perda e medo.

Versão brasileira: João Antunes

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