“Mas antes de todas estas coisas lançarão mão de vós, e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e às prisões, e conduzindo-vos à presença de reis e presidentes, por amor do meu nome. E vos acontecerá isto para [que sirva de (ἀποβήσεται ὑμῖν)] testemunho (εἰς μαρτύριον). Proponde pois em vossos corações não premeditar como haveis de responder; Porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem. E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa do meu nome. Mas não perecerá um único cabelo da vossa cabeça. Na vossa paciência possuí (κτήσασθε, ganhareis) as vossas almas.” (Lucas 21,12-19)
Esta é uma das leituras para a festa de hoje, conforme o Calendário Juliano Revisado, dos 40 Mártires de Sebaste. Eles foram soldados do exército do Imperador Licínio (308 – 324 d.C.), colocados de pé durante toda a noite num lago gelado, antes de serem executados por serem quem eram, ou seja, cristãos. As autoridades pagãs tentaram persuadir os mártires a negarem a sua identidade cristã e a tornarem-se quem eles não eram, ou seja, pagãos. Mas os mártires perseveraram, com “paciência”, e assim mantiveram a “posse” das suas almas, dos seus “eus” como Deus os chamou a ser.
A maioria de nós não suporta desafios à nossa identidade de uma forma tão extrema. No entanto, o “possuir” ou “ganhar” quem somos, segundo o que Deus nos chama a ser e a fazer, pode ser diariamente desafiado de forma sutil, mesmo por aqueles que nos são mais próximos (daí que os 40 mártires sejam mencionados no Rito Bizantino da “Coroação” ou Santo Matrimônio). Posso ser desafiado hoje, a não fazer ou ser o que sou chamado a fazer ou ser, por querer agradar as pessoas ou por medos meramente humanos, por desânimo, por procrastinação, por conversa fútil, etc. Que eu aborde estes “espíritos” paralisantes, se hoje eles mostrarem suas caretas, “para testemunho”, a quem escolho ser, e a Quem escolho pertencer. Me reconecto com Deus esta manhã, abrindo o meu coração à Sua graça, para que Ele me dê “boca e sabedoria” para fazer e ser de acordo com o Seu bom propósito para mim. E se hoje eu falhar, em qualquer “testemunho”, oro pela sabedoria e coragem para me levantar, sacudir a poeira e seguir em frente, na graça da “paciência”. Santos mártires, rogai a Deus por nós!
Versão brasileira: João Antunes
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