A HUMILDADE, UMA COISA VAGA

Concede a Teu servo o espírito de temperança (σωφροσύνης, цело-мудрия), de humildade (ταπεινοφροσύνης, смиренно-мудрия), de paciência e de caridade.” (2ª parte da Oração Quaresmal de Santo Efrém, o Sírio)

A humildade é um tipo de coisa vaga, difícil de definir. Também é fácil confundir alguma “humildade falsificada” com humildade real. Por exemplo, posso imaginar que estou sendo “humilde”, ao mesmo tempo que fujo às minhas responsabilidades, ou usando uma máscara que inventei, apenas para não ser quem sou chamado a ser no meu lugar, tempo e identidade dados por Deus. Como G. K. Chesterton observou: “O que nós sofremos hoje é humildade no lugar errado. A modéstia abandonou o órgão da ambição. A modéstia se instalou no órgão da convicção, onde nunca deveria estar. O homem foi concebido para duvidar de si mesmo, mas não para duvidar da verdade”.

A Oração Quaresmal de Santo Efrém diz-me três coisas úteis sobre a humildade: 1. É bom para mim pedi-la, por isso devo desejá-la; 2. É um “espírito”, mais especificamente, é uma energia do Espírito Santo, à qual me abro, em vez de algo que devo ou posso juntar a partir de dentro de mim; e 3. É uma “mentalidade” (ταπεινο-φροσύνη, смиренно-мудрие) ou “abordagem” às coisas, que envolve uma forma de pensar. Quando estou “na” graça da humildade, e a graça da humilde está “em” mim, dou por mim sabiamente capaz de “mergulhar de cabeça”, no Espírito Santo, quando é necessário — da onda perigosa ou da calamidade que por acaso me vem à cabeça. Assim, a humildade é um “mergulhar”, no abrigo cálido e no cuidado amoroso do Espírito Santo, em vez de afirmar a minha própria resposta, sem Espírito, às coisas. Isto nem sempre significa estar em silêncio, nem significa “ser um capacho”. Significa valorizar as Suas energias, em vez das minhas próprias. Ele cresce, e eu, diminuo (cf. João 3,30).

Hoje, que eu me abra a Deus e ao Seu Espírito, permanecendo perto d’Ele, para que as minhas respostas às situações, coisas e pessoas à minha volta sejam abrandadas e temperadas pela humildade, em Sua, e não minha, sabedoria.

Versão brasileira: João Antunes

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