CHAMADOS A SERMOS NÓS MESMOS

Porque muitos são chamados (κλητοὶ), mas poucos escolhidos.” (Mateus 22,14)

Um “chamado” ou “vocação” é comum a todos os membros da “igreja” ou “ekklesia” (do verbo grego “ekkaleo”, que significa “chamar”). Somos todos “chamados segundo o Seu propósito” (Romanos 8,28) para cada um de nós, de acordo com os nossos dons e caráter específicos, dados por Deus. Mas não é fácil discernir a voz de Deus nas nossas vidas (a nossa “vocação” específica), e escolhê-la em vez de outras vozes. Elas afastam-nos de sermos nós mesmos, o “eu” que Deus quer que sejamos, para uma predominância de máscaras populares por detrás das quais a maioria de nós se sente segura.

Uma “vocação”, como define Karl Jung, é “um fator irracional que destina o homem a emancipar-se do rebanho e de suas trilhas gastas”. Ou seja, é libertadora. Mas para Jung a “vocação” é “ao mesmo tempo um carisma e uma maldição, porque o seu primeiro fruto é a separação consciente e inevitável do indivíduo da manada indiferenciada e inconsciente. Isso significa isolamento…”. Quando estamos isolados na “arca” salvífica que é a Igreja, contudo, não estamos nem amaldiçoados nem sozinhos, mas na boa companhia da comunhão dos santos, — canonizados e não.

Que eu peça Deus coragem hoje de ser eu mesmo, como Ele me fez e me vê, para que me junte a outros que hoje escolhem a Sua voz. Não resisto a ser “escolhido” e libertado por Ele, a ser o meu “eu” como Ele imaginou.

Versão brasileira: João Antunes

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