“E, no entanto, é de sabedoria que nós falamos entre os perfeitos (ἐν τοῖς τελείοις, aqueles com maturidade espiritual); sabedoria que não é deste mundo, nem dos chefes deste mundo, votados à destruição. Ensinamos a sabedoria de Deus, mistério que permaneceu oculto e que Deus, antes dos séculos, predestinou para nossa glória. Nenhum dos chefes deste mundo a conheceu, pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da glória.” (1 Coríntios 2,6ss)
A “sabedoria de Deus”, falada pelos Apóstolos e seus sucessores é “mistério” que “permaneceu oculto” de todos, “antes dos séculos”. Mas ela não é desconhecida, nem permanece “oculta”, tendo sido revelada (e continuando a ser revelada) na Pessoa de Jesus Cristo, aos “maduros”, àqueles que se abriram a Ele.
Quando falamos de “mistério” em nossa Tradição, não estamos nos referindo, ao contrário de um equívoco popular, a algo desconhecido para nós. O que queremos dizer, por “mistério”, é algo que requer a nossa abertura para receber o seu significado; para receber a revelação da Verdade e da Luz que está “oculta” em Jesus Cristo, por aqueles que estão dispostos a “vê-l’O” por Quem Ele é. O “mistério”, na nossa Tradição, também requer “mistagogia” (“μυσταγωγία” em grego, ou “introdução/iniciação ao mistério”), o que significa que precisamos que outros nos “introduzam”, ou nos “conduzam”, ao conhecimento da sabedoria de Deus, revelada em Nosso Senhor Jesus Cristo. É por isso que, tradicionalmente, as explicações do “mistério” da Eucaristia, (por exemplo, aquela escrita por São Máximo, o Confessor, no séc. VII), são chamadas “mistagógicas”. E é por isso que as nossas alegrias e tristezas na jornada carregando a cruz, ao seguirmos a nossa vocação, também podem ser chamadas “mistagógicas”, pois através delas “amadurecemos” no conhecimento deificante do Nosso Senhor.
Que eu seja atraído por aquilo que está oculto em “mistério”, para que me permita ser “conduzido”, pela “mistagogia” cheia de graça da Tradição viva. Senhor, quero aprender mais, não da “sabedoria” dos “chefes deste mundo”, que continuam a mudar a cada ciclo eleitoral, mas da Tua imutável sabedoria. Ajuda-me a ser dócil hoje, e aberto à aprendizagem dos Teus mistérios.
Versão brasileira: João Antunes
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