“Os céus proclamam a glória de Deus;
o firmamento anuncia a obra das Suas mãos.
Um dia passa ao outro esta mensagem
e uma noite dá conhecimento à outra noite.”
(Salmo 18/19,2s)
Como é que os céus “proclamam a glória de Deus”, pergunto-me hoje, ao ver as notícias de mais uma tempestade algures no mundo, e as suas consequências devastadoras. Acolheria de bom grado os vossos pensamentos/respostas a essa pergunta de hoje, se puderem fazê-lo.
O que penso: Deus nunca colocou o ser humano num ambiente inteiramente “seguro”, protegido. Mesmo no Jardim do Éden a “segurança” era tão baixa que a serpente foi capaz de se infiltrar. Como um pai sábio, Deus deixou-nos ser expostos a certos perigos desde o início, para que pudéssemos crescer em conhecimento e competência na gestão do estado semelhante a Deus (mas potencialmente perigoso) que é a liberdade.
Mas a nossa escolha, de aprender “o conhecimento do bem e do mal” através de uma forma sugerida pela serpente e não por Deus, acelerou o nosso “processo de crescimento” até um grau que Deus não tinha pretendido para nós. Em outras palavras, crescemos demasiado depressa. E isso foi trágico, porque o conhecimento adquirido desta forma (“fora” de Deus) era muito pesado, e como tal trouxe-nos sofrimento. Mas o que fazemos, se os nossos filhos crescem demasiado depressa?! Deus aceitou a nossa decisão e deu o melhor de Si, fazendo-nos roupas decentes e dando-nos trabalho de adultos para fazer no mundo “exterior”, para que não ficássemos sentados em casa e sofrêssemos escondidos, cobertos por folhas de figueira. Ele enviou-nos para o “exterior”, onde o nosso sofrimento não ficaria infrutífero; através dele aprenderíamos responsabilidade e a darmos frutos, e seríamos levados a uma nova vida. Ele permitiu-nos seguir o caminho que tínhamos escolhido para nós mesmos, que era “conhecer o bem e o mal”, mas Deus também o fez salvífico para nós, porque Ele tem essa maneira de reverter a nosso favor, mesmo aquilo que aos nossos olhos é mau.
Para chegar ao meu ponto principal, penso que o “exterior” em que Deus nos “exilou” tinha muito mais responsabilidades e oportunidades de aprendizagem do que o Jardim. Queríamos ganhar “conhecimento”, não é verdade? Portanto, Deus enviou-nos realmente para a escola, poder-se-ia dizer. E estas responsabilidades acrescidas e oportunidades de aprendizagem no “exterior” incluíam os altos e baixos do ambiente natural indomado ou “selvagem”, bem como os lados “selvagens” da natureza humana decaída, tanto masculina como feminina, e a beleza trágica de lidar com tudo isso. Quer dizer, agora os seres humanos são dados a aprender e a crescer através dos altos e baixos e das imprevisibilidades da natureza: 1. O mundo natural, a natureza; e 2. Um sobre o outro. Deus quer assim, em Sua extraordinária fé em nós, para que aprendamos a lidar com, e a amar, essas pessoas e esse mundo natural que tanto nos abençoará como (potencialmente) nos ferirá, se/quando somos abusivos para com ele ou simplesmente não o compreendemos, não o podemos controlar, somos humilhados por ele, ou de alguma forma sofremos a sua perda ou rejeição ou capricho imprevisível.
Assim, em resposta à minha pergunta inicial, penso que “os céus” proclamam de fato a glória de Deus, mesmo quando cheias destrutivas inundam as nossas cidades, porque isso faz parte de todo o conjunto do “exterior” em que Deus nos permite ganhar “conhecimento”, dia após dia e noite após noite. Estamos aprendendo, através dos nossos amores e perdas, tanto no nosso ambiente natural/material como nas nossas relações humanas, a sermos mais sábios, mais compassivos, mais respeitadores dos limites, mais agradecidos, humildes, criteriosos, etc. E a vermos o mistério de Deus e a Sua fé dignificante em nós, em tudo isto.
Versão brasileira: João Antunes
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