DIREITO (CANÔNICO) E FÉ

Oh Gálatas insensatos (“anoetoi”)! Quem vos enfeitiçou, a vós, a cujos olhos foi exposto Jesus Cristo crucificado? Só isto quero saber de vós: foi pelas obras da Lei que recebestes o Espírito ou pela pregação da fé? Sois tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, quereis agora, pela carne, chegar à perfeição?” (Gálatas 3,1ss)

Aqui São Paulo está repreendendo os Gálatas por se concentrarem não em fomentar, no Espírito, a sua fé no Senhor crucificado, mas em vez disso, em focar na “carne”, na adesão às regras da “Lei” do Antigo Testamento. Penso que ele diria algo semelhante a nós hoje, numa situação algo diferente mas semelhante, quando algumas das nossas Igrejas se concentram em assuntos de Direito (Canônico), territórios e jurisdições “canônicos”, como se estes nos definissem como “Igreja”, e não o amor Auto-ofertado de Cristo crucificado. “Quem vos enfeitiçou?”, diria ele, — “enfeitiçar” não literalmente, mas no sentido de que o nosso pensamento se tornou tão nublado, tão antibíblico, que parece que algum tipo de feitiço foi lançado sobre nós.

Por muito que eu ame o Direito Canônico, hoje sou grato pela recordação de São Paulo, de que não é por ele que estamos sendo feitos “perfeitos” como Igreja. É por “receber o Espírito”, em cujo serviço cumprimos (ou não cumprimos, conforme a “oikonomia” pastoral pode exigir) as regras e regulamentos do Direito Canônico. Uma coisa nos define como Igreja, e é o nosso amor carregando a cruz uns pelos outros: “Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13,35).

Versão brasileira: João Antunes

© 2021, Ir. Vassa Larin
www.coffeewithsistervassa.com