“… E perdoa-nos as nossas dívidas/ofensas (τὰ ὀφειλήματα ἡμῶν, долги наша), assim como nós perdoamos aos nossos devedores/aos que nos tem ofendido…” (Mateus 6,12 – A Oração do Pai Nosso)
A expressão usada no original grego de Mateus 6,12, “ὀφειλήματα” (de “ὀφείλω”, com o sentido de “dever, ter que pagar ou ter que prestar contas”) significa “dívidas”. Então a tradução eslava do Pai Nosso (долги наша), bem como o alemão (unsere Schuld), a traz corretamente. Destaco isso porque acho que o termo “dívidas” é a chave para a compreensão da experiência humana chamada “culpa”. É o sentimento que “devo” a alguém ou algo; que não tenho “pago” suficientemente. Por isso “culpa” significa carregar comigo um buraco invisível de insuficiência.
A culpa é irracional, no sentido de que nós não queremos que “venha” sobre nós por algum processo de pensamento consciente. Ela pode ser justificada como a voz de Deus em mim. Mas também pode ser inteiramente injustificada e descabida, vindo de uma voz ou vozes que não são de Deus. Eu posso sentir culpa por não completar esse grau de doutoramento que nunca precisei, ou por sair de um relacionamento abusivo que nunca precisei e coisas assim. Esses falsos sentimentos de culpa são prejudiciais, especialmente porque eles me distraem daquilo que realmente precisa da minha atenção.
Em qualquer situação, somente Deus e Sua divina misericórdia podem preencher o buraco em mim, proveniente da “culpa”. Quando estou orando a Ele para deixar pra lá as minhas “dívidas”, eu também Lhe entrego o juízo sobre o que, na verdade, é uma verdadeira “dívida”, e o que não é. Me conecto com Sua graça e misericórdia, falando com Ele e assim deixo Sua luz ser derramada no meu julgamento sobre o que é “errado” e o que é “certo” na minha vida. Sua graça me ajuda a me encaminhar na direção correta, para que eu possa direcionar minha atenção às minhas verdadeiras dívidas e discernir o que elas são. “Pois Teu é o Reino”, digo ao meu único Rei e Juiz hoje, “e o poder e a glória”. Amén!
Versão brasileira: João Antunes
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