LIDANDO COM A “SOLIDÃO”

Deus não rejeitou o seu povo, que de antemão escolheu. Não sabeis, porventura, o que diz a Escritura na passagem onde Elias apresenta a Deus esta queixa contra Israel: ‘Senhor, mataram os teus profetas, derrubaram os teus altares; só eu fiquei (κἀγὼ ὑπελείφθην μόνος) e andam a procurar tirar-me a vida!’. Mas, qual foi a resposta divina? ‘Reservei para mim sete mil homens, aqueles que não dobraram o joelho diante de Baal’. Pois bem, assim também no tempo presente existe um resto (λεῖμμα), cuja eleição se deve à graça (κατ᾽ἐκλογὴν χάριτος) de Deus. Mas se o é pela graça, deixa de ser pelas obras; caso contrário a graça deixaria de ser graça.” (Romanos 11,2-6)

Tanto quanto Elias pode enxergar, ele foi “deixado só”. Mas Deus enxergou um quadro maior. Isto porque Deus conhece nosso lugar em Seu universo tanto “antes” quanto “depois”, porque Deus é, e Sua percepção é, fora do tempo e espaço, enquanto nós, em nossa percepção meramente humana, costumamos enxergar apenas o quadro menor de nosso tempo e espaço atual, no qual nossa condição humana “opera” e nossas questões jogam o papel central. Daí eu costumo olhar ao redor, às vezes, e dizer como Elias fez, “só eu fiquei”. Mas esta percepção meramente humana, chamada “solidão”, pode ser expulsa pela percepção estabilizadora e unificadora de Deus, que é concedida abundantemente a mim com algo chamado “graça”, se estou disposto a abrir-me a ela.

Como posso ativar minha percepção para enxergar um quadro maior hoje e fugir da “solidão”? Para começar, posso me reconectar com Deus, em Quem nunca sou “deixado só”. Eu sei que muitas pessoas solitárias por aí podem contestar a essa proposição, dizendo algo como “Mas…” e “Não é tão simples assim…” – como eu também digo e fico dizendo, sempre que escolho me sentir vítima pelo desânimo e por alguns de seus filhos, como a “solidão”. Mas hoje vou estar disposto a esforçar-me com Deus e escolher Sua graça, para que eu não seja “deixado só”, conforme minha própria escolha da percepção e das “obras” meramente humanas. A graça de Deus também me move à ação apropriada, ou seja, a fazer a próxima coisa certa, em resposta à “solidão”. (No caso de você estar pensando que a mensagem, “apenas ore”, seja um tanto ridícula e ineficaz.) Deus realmente pode e “opera” em mim, quando O deixo, e quando escolho viver minha vida de acordo com Sua escolha, ou seja, “segundo a eleição da graça”.

Versão brasileira: João Antunes

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