“Com efeito, está escrito que Abraão teve dois filhos: um da escrava e outro da mulher livre. Mas, enquanto o da escrava foi gerado segundo a carne, o da mulher livre foi gerado por causa da promessa. Isto está dito em alegoria; pois elas representam duas alianças: uma, a do monte Sinai, foi a que gerou para a escravidão; essa é Agar. Ora, Agar é o nome dado, na Arábia, ao monte Sinai, e corresponde à Jerusalém atual, já que se encontra sob a escravidão, juntamente com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre; essa é a nossa mãe, pois está escrito: ‘Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz; rejubila e grita, tu que não sentes as dores de parto; pois são muitos os filhos da abandonada, mais do que os daquela que tem marido!’. E vós, irmãos, à semelhança de Isaac, sois filhos da promessa.” (Gálatas 4,22-28)
Na “nova” aliança entre Deus e nós, cumprida em Seu Filho, em Sua própria “negociação” com nossa escuridão, em Sua cruz, nos é dado nascer “de novo”, ou “de cima” (cf. João 3); da “Jerusalém do alto”, que é livre. Diferentemente do nosso nascimento “segundo a carne”, de nossos pais biológicos, a quem não escolhemos, — o nosso nascimento em Cristo, em nosso batismo, é livre, conforme podemos livremente optar por abraçar e crescer em Sua nova vida, e dar frutos nesta nova vida, — ou não. E isto, nossa liberdade e capacidade de dar frutos em Cristo, é verdade, independentemente das deficiências de nossas circunstâncias da vida ou de educação, e independentemente de sermos como aquela “que tem marido”, ou sermos “estéreis” e “não darmos à luz”, “segundo a carne”.
Estar sozinho, meus amigos, — seja você divorciado ou viúvo, ou solteiro desde sempre, ou sem filhos e/ou solitário dentro de um casamento —, já não significa ser inútil, como muitas vezes era no Antigo Testamento, e como era visto no tempo da mãe da Theotokos, Santa Ana, cujo repouso é comemorado hoje (Calendário Juliano Revisado). Porque, em nosso Senhor Jesus Cristo, na vida daqueles conectados a Seu Espírito, “a abandonada” pode ter filhos mais numerosos “do que daquela que tem marido”. Nossa vulnerabilidade, quando admitimos estar “abandonados” sem Ele, desperta em nós uma sede por Sua nova vida e Sua “água viva”, pela qual podemos ser libertos da escravidão do meramente humano que traz morte, e tornar-nos “fontes” de graça e utilidade vivificantes que fluem livremente para nós e para os demais. “Quem beber da água que Eu lhe der, nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der há-de tornar-se nele em fonte de água que dá a vida eterna” (João 4,14). Então que eu abrace Cristo hoje, por meio de alguma oração sincera, como um “filho da promessa”, — de Sua promessa imortal para mim, para me fazer uma “fonte” de Seu tipo de utilidade, que “brota” livremente “para a vida eterna”, não importa quão “abandonado” eu possa me sentir hoje.
Versão brasileira: João Antunes
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