Este ano, ao relermos e redescobrirmos a Parábola do Filho Pródigo, fico impressionada com o fato de Nosso Senhor estar tentando converter tanto os “obedientes” quanto os “desobedientes” entre nós, de nossa visão geralmente distorcida de Nosso Pai do céu. A questão é que, como disse minha amiga Nadia Kizenko em seu recente sermão sobre essa parábola, “Deus quer que sejamos felizes”.
O filho mais novo e desobediente sente inquietação na casa de Seu pai; pede ao pai sua parte da herança (como se o pai tivesse morrido), parte para fazer o que bem entende, acaba passando necessidades e sofrimentos, depois cai em si, levanta-se e volta para o pai, tendo preparado um pequeno discurso sobre sua indignidade etc. Quando ele volta, o pai sai para cumprimentá-lo com beijos cheios de alegria, interrompe o pequeno discurso do filho pela metade e diz aos servos que vistam o filho com “a melhor túnica” (στολὴν τὴν πρώτην) e dá uma grande festa em sua casa.
Quando a festa já estava em marcha, somos informados de que o filho mais velho está no campo, ou seja, fora da casa do pai e fora da festa e de sua música. Porque era isso que ele fazia. Ele trabalhava e servia ao pai, mas, de alguma forma, não esperava nem queria festejar e apreciar a música do pai. Quando ele fica sabendo sobre o que está acontecendo na casa, ele não quer entrar. Ele fica até com raiva do pai, por estar celebrando com seu irmão desobediente.
Ambos os filhos inicialmente tratam o pai não como um pai, mas mais como um patrão. É um tipo de relacionamento infeliz e comercial. “Dá-me a parte dos bens que me corresponde”, é o que o filho mais novo tem a dizer ao pai no início da estória. Mas ele aprende, por meio de sua inquietação e da consequente jornada rumo à fome e ao sofrimento, a voltar e dizer: “Trata-me… ποίησόν με” (como um de seus servos contratados) — embora o pai o interrompa antes que ele possa dizer essa parte. O filho mais velho fala ao pai sobre as coisas que ele (o filho mais velho) faz para Ele, e como ele “nunca transgrediu uma ordem”, ao contrário de seu irmão, portanto, ele esperava uma retribuição em troca.
Enquanto isso, o pai sente alegria em ser pai, não patrão. O aspecto provocador dessa estória está no fato de que é ao deixar a casa do pai (como um jovem deve fazer) que o filho mais novo experimenta o crescimento, ou seja, cometendo seus próprios erros e percebendo quem ele é (ao “cair em si”), ou seja, um filho com um Pai; um filho de um Deus amoroso e compassivo. Enquanto isso, o filho mais velho, que nunca parou de trabalhar para o pai, nunca deixou de ter uma atitude infantil em relação ao pai. O filho mais velho nunca percebeu a descontração, se é que posso dizer assim, do verdadeiro amor divino. Deus quer que celebremos com Ele; que celebremos em Sua casa e, quando trabalharmos, que trabalhemos com liberdade e alegria, em nossos altos e baixos, à medida que crescemos por meio deles em comunhão com Ele.
Essa é a novidade da mensagem de Cristo: Ela não se foca em um conjunto de regras que nos garante um certo número de retribuições de um patrão impessoal, desde que cumpramos essas regras. Quando Nosso Senhor ressurreto preparou o café da manhã na costa do mar da Galileia e serviu Pedro, que havia “caído” ao negá-l’O três vezes, Cristo fez algo semelhante com o pai dessa parábola. Note que Cristo também não exigiu um pedido de desculpas de Pedro. Ele simplesmente permitiu que Pedro afirmasse que O amava, três vezes. Que alegria! Sigamos com alegria em direção à Quaresma e não tenhamos medo de fazer trapalhadas na casa de Nosso Pai, mesmo que nossas próprias trapalhadas partam nossos corações. Reconheçamos que nossos corações quebrantados são corações abertos à compaixão, por nós mesmos e por nosso irmão ou irmã, que também pode precisar de nossas calorosas boas-vindas na casa de Deus conosco nela, Seus filhos imperfeitos. Feliz Domingo do Filho Pródigo, queridos amigos! Desculpem o longo texto.
Versão brasileira: João Antunes
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