ÍCONES E «ORTODOXIA»

Ontem, celebramos o Domingo da Ortodoxia, que comemora o triunfo da doutrina do 7º Concílio Ecumênico sobre a veneração de ícones, depois de um longo período de luta contra a “iconoclastia” (um ataque ou combate às santas imagens), que voltou a se manifestar depois desse Concílio. Por que a veneração de ícones é inerente à *ortodoxia* cristã? Porque os ícones nos lembram de quem e o que é normal para nossa fé e vida, para que não nos esqueçamos. É fácil esquecer, especialmente em nossos tempos conturbados, quando o anormal parece estar triunfando sobre o normal cristão nas mais altas esferas do poder, e até mesmo se orgulhando de seus modos não-ortodoxos e violentos. Mas vamos considerar alguns outros aspectos da iconoclastia.

Ser um “iconoclasta”, ou atentar contra as santas imagens, significa atentar contra o ser humano. É por meio e pelas mãos humanas que as santas imagens são feitas, a fim de guardar a memória (ou não esquecer) e partilhar a salvação que os olhos humanos viram e como viram. Os ícones são, de fato, obras de arte. Eles manifestam e “transmitem” (“tradição”) a experiência de fé física e espiritual de nossos antepassados na Igreja, desde os profetas e apóstolos, que, por meio de seu testemunho ocular, estejam em comunhão com aqueles que acreditaram em seu testemunho. “O que nós vimos e ouvimos, isso vos anunciamos”, diz o Apóstolo João, “para que também vós estejais em comunhão (κοινωνίαν) conosco. E nós estamos em comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1ª João 1,3). Enquanto os Apóstolos evangelizavam principalmente por meio da palavra falada e escrita (que também “encarna” a vontade e o amor de Deus por nós e, portanto, também é um ícone), as gerações seguintes de fiéis também começaram a retratar seu testemunho ocular não apenas por meio de palavras, mas por meio de outros tipos de obras de arte, como as santas imagens, para não esquecer o que e quem essas gerações tinham visto, ouvido, crido e amado. Isso é tão natural e humano quanto guardarmos fotos de pessoas, lugares e eventos que nos são queridos. Mas, diferentemente de muitas de nossas fotos, quando se trata da tradição apostólica, as palavras e as imagens que nos foram transmitidas também nos lembram qual é a norma, o “cânone” da fé, para que não a distorçamos por meio do esquecimento e, assim, percamos o contato ou a comunhão com Aquele que Se revela física e espiritualmente a nós por meio da Tradição.

Esse “cânone” ou norma, do Qual somos lembrados por meio dos ícones, é vital para nos ajudar a permanecer no caminho da “Ortodoxia”. É um caminho, repito, um caminho, e um processo para o qual somos chamados, em vez de uma identidade que possuímos automaticamente, porque frequentamos uma igreja Ortodoxa ou fazemos ou dizemos coisas Ortodoxas. A palavra “Orto-doxia” vem de duas palavras que, juntas, significam o processo ou o caminho para nos tornarmos orthoi ou “retos/justos/corretos” em nosso pensamento, crendo, esperando e glorificando (em) Nosso Senhor e a vida nova para a qual Ele está sempre nos conduzindo, por meio de nossas jornadas carregando a cruz. É importante manter os olhos fixos na meta, por assim dizer, sempre que nossas provações e tribulações nos levem para fora do caminho reto e seguro, levando-nos ao medo, à raiva, aos ressentimentos ou à indiferença em relação a Deus, à(s) Sua(s) imagem(ns) em nosso próximo e a outras manifestações de beleza em nosso mundo. Graças Te dou, Senhor, por Teus ícones entre nós, e que eles nos ajudem hoje a permanecer humanos e belos, quando as coisas ficarem feias.

Versão brasileira: João Antunes

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