“Zacarias [o pai de João Batista] perguntou ao anjo: ‘Como terei certeza disso? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada’. O anjo respondeu-lhe: ‘Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova. Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas palavras, que se hão de cumprir a seu tempo’. No entanto, o povo estava esperando Zacarias; e admirava-se de que ele se demorasse tanto tempo no santuário. Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo. Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa. Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu…” (Lucas 1,18-24)
Muitas coisas precisam ser ditas sobre os acontecimentos em torno da Concepção de São João Baptista, hoje celebrada (no Calendário Juliano Revisado). Mas me concentrarei apenas num momento desta narrativa bastante longa, transmitida a nós como a primeira “história” do Evangelho segundo Lucas. E isto é, a reação do “povo”, — que estava esperando pelo sacerdote Zacarias fora do “santuário”, enquanto ele estava dentro para queimar incenso, — à sua incapacidade de falar, quando ele saiu. Eles imediatamente “compreenderam que tivera no santuário uma visão”. Presumiram imediatamente um encontro transcendental, “uma visão”, porque o transcendental e o invisível faziam muito parte de seu mundo. Para eles, o mundo “invisível” era responsável por fenômenos que não tinham explicação “visível”, no mundo “visível”.
Mas em nosso mundo amplamente secularizado, que separa estritamente o “religioso” do “político”, o “espiritual” do “material”, e muitas vezes, em última análise, dispensa o papel do “invisível” no meio do “visível”, provavelmente não correríamos a explicar a estranha “mudez” de Zacarias, se ele fosse um dos nossos sacerdotes, assumindo alguma razão transcendental, como “uma visão”.
No entanto, hoje em dia, as Escrituras recordam-me, não raro, que os anjos falam com as pessoas, e os demônios clamam a Jesus, que eu habito um mundo de Um só Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra, e de todas as coisas visíveis “e invisíveis”. Que hoje o meu coração esteja aberto aos incontáveis anjos invisíveis em nosso meio, portadores da “feliz nova” da presença de Deus em minha vida.
Versão brasileira: João Antunes
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