“E, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher com um vaso de alabastro, com unguento de grande valor, e derramou-lho sobre a cabeça, quando ele estava assentado à mesa. E os seus discípulos, vendo isto, indignaram-se, dizendo: ‘Por que este desperdício? Pois este unguento podia vender-se por grande preço, e dar-se o dinheiro aos pobres’. Jesus, porém, conhecendo isto, disse-lhes: ‘Por que afligis esta mulher? Pois praticou uma boa ação para comigo (εἰς ἐμέ). Porquanto sempre tendes convosco os pobres, mas a mim não me haveis de ter sempre. Ora, derramando ela este unguento sobre o meu corpo, fê-lo preparando-me para o meu enterramento. Em verdade vos digo que, onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua’. Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, e disse: ‘Que me quereis dar e eu vo-lo entregarei?’. E eles lhe pesaram trinta moedas de prata, e desde então buscava oportunidade para o entregar.” (Mateus 26,6-16)
Assim, a mulher que unge Cristo faz “uma boa ação” para com Ele, — pessoal e concretamente por Jesus Cristo, no aqui e agora. E esse “aqui e agora” acontece nesta semana da Sua paixão, quando Ele Se encontra na periferia de Jerusalém — um lugar perigoso por causa dos príncipes dos sacerdotes que, nesta altura, estavam tentando destruí-l’O. Mas a preocupação dos “discípulos”, que, segundo outro Evangelho (João 12,4s) é expressa por Judas, é impessoal, —“aos pobres (anônimos)”, em suas necessidades indefinidas num futuro incerto.
Judas é um avarento, o que significa que ele vê o dinheiro como algo a ser acumulado para um futuro, necessidade ou calamidade vagamente identificados. Significa também que ele substituiu o amor e uma conexão com o próximo, incluindo Deus, pelo dinheiro, como o “Scrooge” de Dickens. Judas é “alimentado” pelo possuir dinheiro, tendo depositado nele toda a sua fé, e tendo-se assim tornado morto para qualquer conexão real com Cristo ou com qualquer outra pessoa. Assim, ele age sozinho, e morre sozinho, com as suas “trinta moedas de prata” que revelaram-se inúteis para ele no final.
Que hoje, nesta Grande e Santa Quarta-Feira, eu continue a vigiar que qualquer dinheiro ou outro “talento” físico que eu possa possuir não deixe de ser “uma boa ação”. Uma verdadeira “boa ação” é fazer, com os meus talentos, aquilo que sou chamado a fazer aqui e agora, de acordo com a minha vocação. E isso significa, fazer por aqueles no meu aqui e agora, a quem fui chamado a servir e a ministrar, de acordo com as minhas responsabilidades e relacionamentos concretos dados por Deus. Pois terei sempre “os pobres” comigo, mas posso não ter sempre estas pessoas na minha proximidade.
Versão brasileira: João Antunes
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