“E disse-lhe um da multidão: ‘Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança’. Mas ele lhe disse: ‘Homem (Ἅνθρωπε), quem me pôs a mim por juiz ou repartidor (μεριστὴν) entre vós?’. E disse-lhes: ‘Acautelai-vos e guardai-vos da avareza (ἀπὸ πάσης πλεονεξίας); porque a vida de qualquer (ἡ ζωὴ αὐτοῦ) não consiste na abundância do que possui’.” (Lucas 12,13ss)
Nossas “posses”, ou aquilo que conseguimos como resultado da nossa posição e/ou trabalho neste mundo, — seja dinheiro, ou certa posição social ou profissional, — podem, por vezes, criar uma separação entre nós e aqueles que nos são mais próximos, nas nossas relações mais importantes (isto é, com alguém que é “meu irmão”). Mas o Senhor recorda-nos, nesta passagem, que a nossa vida não consiste na abundância das nossas “posses” ou conquistas, no nosso mundo mais vasto. Pois é nas relações com aqueles que nos são mais próximos, que amamos, e por quem somos amados, independentemente dos nossos “bens”, que a nossa “vida” realmente consiste. Mesmo que nem sempre “gostemos” uns dos outros, e tendamos a discutir, como os membros da família frequentemente fazem. Assim, o Senhor recusa-se a ser um “repartidor” ou mediador entre nós, em relações que podem e devem ser resolvidas por um “mediador” que já foi dado por Deus, que é o amor.
Por isso, que eu defina minhas prioridades hoje, quando tenho um conflito com as pessoas mais próximas, em assuntos que envolvem “minhas” posses, na minha sociedade mais vasta. Que eu me liberte das “minhas” preocupações, e recue, para que possa manter algo muito mais vivificante, e sustentável, do que os meus “bens”, que é o amor que não adquiri, mas que me é simplesmente dado, nas minhas relações mais próximas. Que eu abrace o “ser [substantivo] certo”, em vez do “ser [verbo] certo”, para que eu possa manter a “vida” que já tenho, na realidade irracional do amor.
Versão brasileira: João Antunes
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