“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus hipócritas, porque pagais o dízimo da hortelã, do funcho e do cominho e desprezais o mais importante da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! Devíeis praticar estas coisas, sem deixar aquelas. Guias cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo!” (Mateus 23,23s)
Aqui o Senhor está alertando-me sobre o concentrar-me em questões secundárias, enquanto perco de vista o objetivo da lei de Deus, ou “o mais importante”, que são “a justiça, a misericórdia e a fidelidade”. É fácil cair nisto; tornar-se muito meticuloso sobre algum aspecto do viver a nossa Tradição, digamos, de ler todas as orações preparatórias antes da Sagrada Comunhão, ou fazer todas as orações da manhã e da noite quotidianamente, — entretanto sendo complacente sobre, digamos, um ressentimento marcante que guardo no meu coração, contra certa pessoa ou pessoas. Talvez a sua simples menção me irrite ou enfureça, mas este fato não me aborrece tanto como aquelas vezes em que deixei de fazer algumas das minhas orações por esta ou aquela razão. Ou talvez eu seja um paroquiano modelo, muito ativo nas obras da igreja, — mas diariamente sou oprimido, no meu coração, por receios meramente humanos, digamos, de insegurança financeira ou de opinião alheia, em vez de permitir que Deus esteja “realmente” presente na minha vida.
Em vez de “engolir” continuamente estes “camelos” e de os arrastar por aí, porque de alguma forma penso que estou bem com Deus desde que eu tenha feito todas as minhas orações ou ido à igreja, preciso (não, não começar a negligenciar a oração ou a ir à igreja), de olhar para estes “camelos” feios, e permitir que Deus os expulse pela graça da Sua “justiça, misericórdia e fidelidade”. Senhor, abra os meus olhos para os “camelos” que posso estar ignorando, ao concentrar-me nas coisas “fáceis”, ou nos “mosquitos”.
Versão brasileira: João Antunes
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