Neste sábado de manhã, estou rezando por “todos os falecidos” e por “todos os santos”, não apenas porque é a véspera do Domingo de Todos os Santos, celebrado em nossa tradição amanhã, no domingo após o Pentecostes. Rezo por “todos os falecidos” e por “todos os santos” todos os sábados, porque todos os sábados em nossa tradição bizantina recordam todos os fiéis que já entraram no “repouso” eterno, pois o sábado é o sétimo dia (da semana), no qual Deus “repousou de toda a Sua obra, que Deus havia começado a criar (ὧν ἤρξατο ὁ θεὸς ποιῆσαι, яже начат Бог творити)” (Gênesis 2,3 cf. Septuaginta). A distinção entre os fiéis “falecidos” e os “santos” é tênue em nossa tradição, pois somente Deus realmente sabe a diferença.
O que significa para nós o repouso de Deus “de” toda a Sua obra da criação? Significa nossa liberdade; Ele deixa para nós a tarefa de “criar” e “transformar” o que quisermos a partir de toda a Sua obra. Isso significa que Ele não mais “realiza obras” em nossa vida? Não, pelo contrário. Como disse nosso Senhor, quando as autoridades religiosas judaicas começaram a persegui-lo por “realizar obras” no sábado: “O meu Pai continua a realizar obras até agora, e Eu também continuo!” (João 5,17). Ele havia apenas “começado” a criar nos primeiros seis “dias”, conforme a versão Septuaginta (grega) de Gênesis 2,3, mas de agora em diante Ele faz Sua “obra” criativa em nós e por meio de nós, na medida em que permitimos. É por isso que, no rito do Santo Batismo, quando o sacerdote celebrante unge nossas mãos com o “óleo santo”, ele diz: “As Tuas mãos me criaram e formaram” (Salmo 118/119,73). De agora em diante, nossas mãos devem participar da contínua “criação” e “transformação” do mundo criado por Deus. Com gratidão, sou recordado desse fato fortalecedor e dignificante nesta bela manhã de sábado, enquanto uso minhas mãos, ungidas há muitos anos com o “óleo santo”, para arrumar minha cama, preparar meu café e digitar esta pequena reflexão. E que todos digamos nesta manhã, meus queridos leitores, o seguinte versículo de um dos Salmos da Primeira Hora, ao começarmos nosso dia: “Venham sobre nós as graças do Senhor, nosso Deus! Confirma em nosso favor a obra das nossas mãos; faz prosperar a obra das nossas mãos” (Salmo 89/90,17).
Versão brasileira: João Antunes
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