Neste primeiro domingo depois do Pentecostes, celebramos “Todos os Santos”, mas os principais hinos da festa mencionam apenas os “mártires” (testemunhas). No principal Tropário ou Apolitíkion da festa, cantamos: “Revestida, como de púrpura e de linho fino, do sangue de todos aqueles que, no mundo inteiro, foram tuas testemunhas, tua Igreja por eles te clama…”. O hino Kondákion também se concentra nos mártires: “Senhor, Autor da Criação, o universo te oferece os Mártires revestidos de Deus como primícias da natureza…”. Por que esse foco nos “mártires”? Por vários motivos: 1. Eles foram os primeiros a serem venerados como “santos” (que significa “dedicados” a Deus) na Igreja Primitiva, na época das perseguições contra os cristãos; e 2. Ser um “mártir” no sentido de dar testemunho da Verdade, mesmo quando isso se torna incômodo ou perigoso, é uma “força” com o qual todo cristão, toda a Igreja, deve ser dotada pelo Espírito Santo: “Mas ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós”; o Senhor diz aos apóstolos antes de Sua ascensão, “e sereis minhas testemunhas (μάρτυρες, mártires) em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo” (Atos 1,8). Dar testemunho incômodo e doloroso deve ser a norma para os sucessores dos apóstolos e para toda a Igreja, e não uma exceção a algum comportamento preferido e “mais seguro”.
Ao entoarmos esses hinos aos mártires neste domingo, podemos nos perguntar: Será que algo deu errado, porque na história recente e até hoje nossas Igrejas, tanto no Oriente quanto no Ocidente, geralmente não enfrentam regimes totalitários e assassinos, nem os sentimentos anti-humanos e fascistas de nosso povo? Será que estamos mais interessados em agradar as pessoas, em “não perder pessoas” (e suas doações), enquanto negligenciamos nossa difícil responsabilidade de testemunhar diante delas sobre Cristo e Sua verdade? Expressamos uma preocupação com a “unidade da Igreja”, mas estamos mais interessados em trazer as pessoas para nós do que para Ele? Socorra-nos, salva-nos, tem piedade de nós, Senhor, e ilumina-nos com as orações de Teus mártires — os que já estão em Teu reino e os que sofrem nas mãos dos regimes totalitários e do pensamento anti-humano de nossos dias.
Versão brasileira: João Antunes
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