Os relatos dos Evangelhos sobre a ressurreição do Senhor chamam o domingo pelo seu nome judaico, “o primeiro dia (da semana)”. Como o primeiro dia da semana, o domingo na tradição cristã reflete a teologia do primeiro dia da criação, no qual “o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas”, Deus criou a luz e separou as trevas da luz.
O entendimento cristão a respeito do domingo, iluminado pelo fato de o Senhor ter saído do sepulcro nesse dia, também ilumina nosso entendimento do “dia” (hemera mia, LXX) do início da criação. No livro de Gênesis, ele não é chamado de “o primeiro dia”, mas de “dia”, diferentemente dos outros dias da criação, porque ainda não haviam outros “dias” e ele está sozinho, fora de qualquer sequência e fora de qualquer tempo. Por isso, os primeiros cristãos também chamavam o domingo de “o oitavo dia”, como um dia que significava eternidade, como um dia que estava além da semana de sete dias. Para os cristãos, no entanto, “o oitavo dia” não estava apenas no futuro; ele se insere no aqui e agora da vida religiosa, particularmente nos sacramentos e na memória viva da ressurreição do Senhor e de sua presença perene entre nós aos domingos.
Os cristãos primitivos chamavam o domingo de O Dia do Senhor (kyriake hemera), não apenas porque o Senhor ressuscitou dos mortos nesse dia, mas porque os cristãos se reuniam como uma comunidade para celebrar a Ceia do Senhor (kyriakon deipnon) nesse dia. Era o dia da semana em que o Senhor ressuscitado apareceu a Seus discípulos e partiu o pão ou comeu com eles, — primeiro, na noite do dia de Sua ressurreição, em Emaús e, depois, no local onde estavam reunidos, na mesma sala onde Ele havia realizado Sua Ceia Mística ou “última” ceia com eles (Lucas 24,30s; cf. João 20,19-23 e Marcos 16,14); e uma semana depois, no mesmo local, quando Tomé estava com eles (João 20,26-29). O domingo também foi o dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos e outros reunidos com eles naquela mesma sala, infundindo e, daí em diante, capacitando a igreja reunida, com a presença do Senhor, em e por Seu Espírito Santo. E foi isso que fez da Eucaristia dominical o que ela é hoje: o encontro com o Senhor ressuscitado por meio do Espírito que Ele concede.
Façamos, hoje, uma pausa e exercitemos nosso músculo de gratidão por esse “Dia”, no qual o Espírito de Deus “movia-se sobre a superfície das águas” e continua a “mover-se” não apenas sobre nós, mas em nós e por meio de nós, no Pentecostes contínuo que é a vida da Igreja. “Este é o dia da vitória do SENHOR: cantemos e alegremo-nos nele!” (Salmo 117/118,24).
Versão brasileira: João Antunes
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