LIBERDADE vs. TIRANIA DO PASSADO

Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes, e não vos sujeiteis outra vez ao jugo da escravidão.” (Gálatas 5,1)

A leitura da epístola de hoje, da qual cito acima apenas um versículo (Gálatas 4,28-5,10, se você quiser ler tudo), trata da liberdade. Aqui, São Paulo me faz refletir sobre nossa tendência humana, em nossas vidas pessoais, políticas e eclesiásticas, de nos cansarmos das responsabilidades complicadas que advêm da liberdade e de nos arrastarmos de volta para sermos “sujeitados outra vez ao jugo da escravidão”. Embora São Paulo estivesse falando sobre o fato de os gálatas voltarem a seguir a “antiga” lei de Moisés, acho que suas palavras são relevantes para a nossa tendência de cair em outros “antigos” padrões de pensamento e de ser.

Isso significa, em nossa vida pessoal, evitarmos o discernimento ou as decisões difíceis, adiando-as ou perguntando a outra pessoa o que devemos pensar e/ou fazer; o escapismo na forma de diversos vícios, de fontes de notícias que veiculam apenas o que queremos ouvir ou de outras coisas que alteram a mente, como a pornografia na Internet, o álcool e outras substâncias. Em nossa vida política e eclesiástica, isso significa idealizarmos os imaginados “bons velhos tempos” ou “valores tradicionais” de regimes autoritários do passado e do presente; confiarmos inteiramente em decisões tomadas em um passado distante, pelos “Padres” e pelas gerações passadas de fiéis; e engajarmo-nos no que o Pe. George Florovsky chamou de “uma teologia da repetição”, em vez de assumirmos a cruz de teologizar e vivermos a Tradição em nosso próprio tempo e lugar. Tudo isso resulta em nos submetermos a uma “tirania do passado”, como disse um autor, e, como diz São Paulo, “nos sujeitarmos outra vez ao jugo da escravidão”.

Deus, conceda-nos a humildade, a sabedoria e a coragem hoje, para caminharmos com responsabilidade em meio aos nossos desafios, como indivíduos e como Igreja, vencendo a morte “pela morte”; aceitando a nós mesmos e a nossa realidade contemporânea como somos, em vez de buscarmos uma fuga para a realidade de outros tempos e lugares. E graças Te dou, Senhor, pelos desafios dignificantes de nossos dias, que confias à Tua Igreja, em Tua eterna fé em nós.

Versão brasileira: João Antunes

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