“Acrescentou [Jesus], depois: ‘Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman’. Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor.” (Lucas 4,24-28)
Nosso Senhor frequentemente critica Seu próprio povo, o que às vezes incita a ira deles, como na leitura do Evangelho de hoje. Aqui Ele, não de uma forma lisonjeira, “relembra” a história religiosa deles, na qual se orgulhavam de ser o povo escolhido de Deus apontando as vezes em que grandes profetas escolheram servir não a qualquer israelita, mas a certos estrangeiros. Se você ler mais a fundo essa passagem, verá que, nessa ocasião, “todos na sinagoga” ficaram tão furiosos que O levaram para fora da cidade até o cimo de um monte, com a intenção de matá-l’O (como o diabo tentou fazer, do alto do Templo), mas Ele, “passando pelo meio deles”, foi embora, porque não era Sua hora de morrer.
Estou refletindo sobre nossa própria capacidade de, e reações à, autocrítica coletiva. É algo ruim para nós criticarmos nossa história ou precisamos, a qualquer custo, justificar o que nós fizemos em nossa história? Percebo que, nas democracias ocidentais, nós, como cristãos Ortodoxos ocidentais, em geral criticamos nossos sistemas e/ou lideranças políticos, e nossa história sem nenhuma reserva em particular, mas quando se trata da história da Igreja Ortodoxa e de sua realidade atual, raramente nos envolvemos em análises histórico-críticas. Afinal de contas, somos “Orto-doxos”, o que podemos entender como significando que nós somos aqueles que têm a opinião correta e a adoração correta. Ponto final. Mas estou considerando que, se Nosso Senhor convida Seu próprio povo a reconhecer as deficiências em seus comportamentos históricos, não nos mataria fazer um pouco de autocrítica às vezes, também como Igreja. E isso provavelmente facilitaria o diálogo e o trato conosco, em conversas entre nós mesmos e com pessoas de fora. Senhor, ajuda-nos a não ter medo de nos vermos como o Senhor nos vê, com nossos prós e contras, com o suave realismo que é a humildade.
Versão brasileira: João Antunes
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