SÃO PAULO SOBRE O CONTROLE DA IRA

Por isso, despi-vos da mentira e diga cada um a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. ‘Se vos irardes, não pequeis’; que o sol não se ponha sobre o vosso ressentimento, nem deis espaço algum ao diabo.” (Efésios 4,25ss)

Às vezes, podemos estar com raiva de alguém ou de alguma coisa, mas não falamos sobre isso uns com os outros. Na epístola de hoje, São Paulo cuidadosamente recomenda que dialoguemos sobre isso, de maneira não pecaminosa, e sem demora, para que o sol não “se ponha” sobre nossa ira e para que não levemos conosco e alimentemos um ressentimento em silêncio.

Isso é o que significa o versículo frequentemente mal compreendido do Salmo 4 (citado por São Paulo em sua versão Septuaginta): “Se vos irardes, não pequeis”. Isso significa que, se você estiver com raiva, vá em frente e fique com raiva, mas não peque; preciso “interpretar” minha ira como um sinal de que preciso adotar as medidas necessárias para a cura, em primeiro lugar, de mim mesmo. Assim como a dor física é um sinal útil de que alguma parte do meu corpo precisa ser curada, a dor ou o desconforto emocional também é um sinal útil de que algo está errado comigo, mesmo que a outra pessoa também esteja errada. Em última análise, eu sou responsável, diante de Deus, por meu próprio equilíbrio ou queda, e pelo “arrependimento” (ou mudança de foco) quando sou levado para longe de Sua graça. São Paulo expõe isso ainda mais, aconselhando a honestidade (ou “despir-se da mentira”) e resolver a questão por meio de um diálogo compassivo uns com os outros (não desconectados, mas como “membros uns dos outros”), no mesmo dia em que começamos a sentir raiva sobre o assunto. Caso contrário, poderemos “dar espaço ao diabo”, o que basicamente significa deixar a conversa se desenrolar em nossas próprias cabeças, com apenas a nossa ira falando dentro de nós.

Recordemos tudo isso também nos casos de nossa “justa” indignação com relação a questões políticas. “Digamos cada um a verdade ao nosso próximo”, quando precisarmos fazer isso, mas joguemos longe toda a raiva, como uma batata quente. Porque a ira não leva a nada e nos prejudica, tornando-nos incapazes e dando “espaço ao diabo”. Senhor, ajuda-nos a falar hoje como “membros uns dos outros”, para que, quando o sol se pôr esta noite, possamos todos ir dormir incólumes à raiva inútil contra pessoas e coisas que não podemos mudar.

Versão brasileira: João Antunes

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