A NUDEZ DE CRISTO NA CRUZ

o SENHOR Deus chamou o homem [Adão] e disse-lhe: ‘Onde estás?’. Ele respondeu: ‘Ouvi a tua voz no jardim e, cheio de medo, escondi-me porque estou nu’.” (Gênesis 3,9s)

Eis o que estou refletindo sobre esta sexta-feira, que é o dia em que Nosso Senhor foi crucificado, nu, na cruz. É também o sexto dia (Shishi em hebraico) da semana, que corresponde ao sexto Dia da criação, no qual Deus criou Adão e Eva. Esses dois tiveram “problemas” com o fato de estarem nus, depois de comerem do fruto da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, por isso se esconderam de Deus e um do outro (com as folhas de figueira). Penso que Cristo escolheu nos conduzir a uma nova vida especialmente pelo Caminho que Ele fez, por meio da morte por crucificação, em parte porque isso envolvia também o terrível (para nós) aspecto de não esconder Sua nudez, como fizeram Adão e Eva depois da assim chamada Queda. Creio que há uma mensagem importante para nós no fato de que a Via Sacra envolve a aceitação e a superação do medo de sermos vistos “nus”.

No sentido espiritual, nosso medo de sermos vistos “nus” por Deus e pelos outros, inclusive por nós mesmos, significa que podemos temer ser despojados de nossas capas de autojustificação, autoengrandecimento e de todas as máscaras que impomos a nós mesmos para nos protegermos das críticas e, em última instância, da mudança; do “arrependimento” que é uma “mudança de mentalidade”. Mas Nosso Senhor nos mostra e nos acompanha em um Caminho que nos leva muito gradualmente a superar esses medos, por meio da fé n’Ele e da comunhão com Seu Ser amoroso. Por Sua graça, se permitirmos que Sua presença esteja em nossa vida, seremos fortalecidos pelo olhar amoroso de nosso Criador, que de fato nos aceita e nos ama como somos, mesmo quando “nós” achamos difícil nos aceitarmos e sermos nós mesmos, como somos, com todas as nossas imperfeições. Não estou querendo dizer que somos levados à impulsividade ou à falta de vergonha e que, de vez em quando, passeamos nus pela vizinhança. Jesus Cristo usava roupas, até que chegou o momento de ser levado à cruz. Acho que é um processo que perdura por toda a vida, no qual somos levados a aceitar e a nos tornar quem somos, quem somos chamados a ser, conforme Deus nos vê e nos desafia a nos tornar, conforme Ele nos conduz pelos vários altos e baixos que nos ajudam a renunciar às folhas de figueira e permitir que Ele nos vista com a “roupa” da nova vida, que é Nosso Senhor Jesus Cristo.

Portanto, que eu confie em Deus hoje e diga: Graças a Ti, Senhor nosso Deus, por me enviares as críticas de bons amigos; os êxitos e fracassos de minhas palavras e ações; e os ganhos e perdas que preciso vivenciar, por meio da aprovação e da rejeição, à medida que aprendo a aceitar quem sou, aos Teus olhos e à Tua vontade para mim. Graças Te dou pela aventura de deixar de lado o medo meramente humano e acolher Tua fé em mim, e em todos nós, para expressar livremente nossas opiniões e caráteres, para que possamos crescer e evoluir em direção a Ti e a Teu tipo de amor, compaixão, paciência, humildade e novidade. “O SENHOR é minha luz e salvação: de quem terei medo?” (Salmo 26,1a).

Versão brasileira: João Antunes

© 2024, Ir. Vassa Larin
www.coffeewithsistervassa.com