A THEOTOKOS E OS “PAPÉIS DE GÊNERO”

Ave, esperança (ἀνάκλησις) de Adão, no princípio; Ave, resgate (λύτρωσις) do pranto de Eva.” (Hino Akathisto à Mãe de Deus, Ikos 1)

A vocação singular da Mãe de Deus assinalou um “reset” de todas as nossas vocações, tanto de homens quanto de mulheres. Ela tinha uma missão, desde que o anjo lançou a bomba da “boa nova”, de que ela traria ao mundo uma Criança “sem conhecer homem”. Essa missão e esse “papel” dados por Deus nunca haviam sido dados a nenhuma mulher, e a ruptura do “status quo” tradicional apresentou novos desafios tanto para ela quanto para os homens em seu meio. Quero dizer, tanto os homens “justos” ou “íntegros”, como José, quanto os que não “justos”, como Herodes.

O primeiro, José, confrontado com a gravidez inexplicável de sua noiva, sendo “um homem justo”, pensou em “deixá-la secretamente” (Mateus 1,19). Para onde ela iria, sendo órfã e grávida fora do casamento? Isso, aparentemente, não era uma preocupação, mesmo para um homem “justo” como José. Herodes, por outro lado, que era um tipo diferente de homem, achou que poderia encontrar e matar o bebê para resolver o problema da ruptura do status quo.

Em nossa época, também experimentamos uma mudança em nossos papéis, como homens e mulheres, tanto na Igreja quanto na sociedade. É difícil, tanto para homens quanto para mulheres. Como mulheres na Igreja de hoje, estamos sendo chamadas a vocações sempre novas, não apenas por causa das novas oportunidades na educação e em outras esferas, mas por causa do “Pentecostes contínuo” que é a vida da Igreja. E na vida da Mãe Igreja, assim como na vida da Mãe de Deus, nosso “dar à luz” à Palavra de Deus que recebemos em nosso “seio” e depois compartilhamos ou damos à luz em nossas comunidades continua sendo um “nascimento virginal”, pois somos chamados e capacitados a fazer isso não por um homem, mas por Deus. Às vezes, isso causa uma ruptura do status quo dos “papéis de gênero” em nossa Igreja, em que os “homens justos”, como José, “nos deixam secretamente”, enquanto outros tipos mais agressivos procuram matar nossos “bebês”.

Mas tenhamos coragem, tanto nós, homens, quanto nós, mulheres. A Mãe de Deus, como a “esperança” de Adão e o “resgate do pranto” de Eva, ofereceu-se a todos nós, encorajando os Adãos a receberem seu novo “chamado” ou vocação, e as Evas a pararem de chorar e seguirem em frente, apesar das dores do parto. Observemos que a Santíssima Theotokos tem um homem ao seu lado, José, apesar de sua decisão inicial de “deixá-la secretamente”. Deus resolveu as coisas entre eles, porque era bom que permanecessem juntos, tanto para José quanto para a Santíssima Virgem, que precisava de sua ajuda. Que eu confie em Deus hoje e deixe que Ele resolva as coisas entre nós, à medida que aprendemos a aceitar a “esperança” e o “resgate” trazidos a nós graças ao Fiat da Theotokos. “Ave, esperança de Adão, no princípio; Ave, resgate do pranto de Eva”. Graças te dou, Mãe de Deus, e “Salve, Esposa Imaculada!”.

Versão brasileira: João Antunes

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