
“Foram ter com João e disseram-lhe: ‘Rabi, aquele que estava contigo na margem de além-Jordão, aquele de quem deste testemunho, está a batizar, e toda a gente vai ter com Ele’. João declarou: ‘Um homem não pode tomar nada como próprio, se isso não lhe for dado do Céu. Vós mesmos sois testemunhas de que eu disse: Eu não sou o Messias, mas apenas o enviado à sua frente. O esposo é aquele a quem pertence a esposa; mas o amigo do esposo, que está ao seu lado e o escuta, sente muita alegria com a voz do esposo. Pois esta é a minha alegria! E tornou-se completa! Ele é que deve crescer, e eu diminuir’.” (João 3,26-30)
O Evangelho de hoje me fez refletir sobre a disposição de João Batista de ficar em segundo plano, quando Jesus de Nazaré chega à “cena” do que Deus estava operando naquele momento no meio de nós. João fala sobre sua própria vocação, sobre ser enviado e, depois, sobre ser “diminuído”, enquanto Cristo “crescia”. João está alinhado com a vontade de Deus para ele, que incluiria (logo após o incidente citado acima) ser “diminuído” a ponto de ser decapitado, sozinho em uma cela na prisão e longe de toda a “ação” em torno de Jesus de Nazaré. João se lamenta por ser “irrelevante” ou não ser mais “necessário”? Será que ele se deixa levar por sentimentos de inutilidade e autopiedade (nos moldes daquela bela canção do The Cars, “My Best Friend’s Girlfriend [A Namorada do Meu Melhor Amigo]… mas ela costumava ser minha!”)? Não. Ele “muito se alegra com a voz do esposo”.
Agora, reflitamos sobre nossas próprias experiências de sermos “diminuídos”, de diferentes maneiras e em vários momentos de nossas vidas. Às vezes somos “enviados” para servir alguém ou alguma coisa, por um tempo, e então esse alguém ou essa coisa pode ser tirado de nós, digamos, porque chegamos à idade de nos aposentar, ou porque nosso casamento se desfez e passamos por um divórcio, ou porque alguém que amávamos morreu, ou se mudou para longe, ou nos rejeitou ou perdeu o interesse em nós, e assim por diante. Podemos aceitar a constante mudança na dinâmica do que Deus está operando no meio de nós, por meio de nossas vocações em constante evolução, para servir e ser servido de diferentes maneiras em diferentes estágios de nossas vidas? Essa é provavelmente uma das coisas mais difíceis de se fazer na vida. Mas acho útil desenvolver um foco na “voz do noivo” em nossa vida, juntamente com um espírito de gratidão por nossos próprios “crescimentos” e “diminuições” em constante transformação, para que possamos ter essa “alegria” de que fala João Batista.
Notemos que não se trata de uma “alegria” egoísta, como a que às vezes (talvez inconscientemente) buscamos receber neste Tempo Pascal; a “alegria pascal” que às vezes lamentamos “não sentir este ano” ou que lamentamos “diminuir” com o passar da Semana Luminosa. João Batista não viveu para ver a Páscoa, nesta vida. Ele morreu sozinho em uma cela na prisão, assim como meu amigo Alexey Navalny este ano, não tendo vivido para ver a Páscoa deste ano junto com o restante de nós. Mas esses dois grandes homens tiveram alegria, a alegria de seguir suas vocações até o fim, confiando nas vozes não dos homens, mas do Deus que os chamou. Portanto, que eu confie em Deus hoje, por meio de meus crescimentos e diminuições, ao me concentrar em Sua voz em minha curta vida. Graças Te dou, Senhor, pelo que e por quem Tu me envias e/ou não me envias, e por aqueles a quem Tu me envias e/ou não me envias. Seja feita a Tua vontade, não a minha, com todos nós, neste Sábado Luminoso.
Versão brasileira: João Antunes
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