O CRISTIANISMO «OCIDENTAL»

Levanta os olhos em torno, ó Sião, e vê que vieram a ti os teus filhos, como fachos acesos por Deus, do poente e do norte, do mar e do levante, em ti bendizendo a Cristo, para sempre.” (Cânon Pascal, Ode 8)

Esta manhã, estou relembrando minha última visita a Roma, uma cidade onde morei e estudei por vários anos, entre alguns dos padres mais generosos e instruídos que já conheci. Refiro-me aos luminares jesuítas da erudição teológica do Pontifício Instituto Oriental, aos quais sou eternamente grata, não apenas pela hospitalidade e instrução que recebi deles, mas por sua abertura e dedicação em aprender sobre minha tradição.

Enquanto me dirigia para o antigo centro do cristianismo “ocidental”, pensava no Tropário do Cânon Pascal Bizantino, citado acima, que se dirige a “Sião”, que na hinografia bizantina significa a Igreja, e que assinala que os filhos de Sião se reúnem de todos os confins da terra – em primeiro lugar, “do poente” [Ocidente], e depois os do norte, do mar [sul] e do levante [Oriente], “como fachos acesos por Deus”. É claro que estou ciente do fato de que o Cânon Pascal foi composto bem antes do Grande Cisma entre as Igrejas, e muito antes da retórica antiocidental em minha Igreja nos dias de hoje. Mas também sou grata pelo fato de que hoje cantamos esse texto como ele foi escrito por São João Damasceno na primeira metade do século VIII, quando aqueles que bendizem Cristo desde “o Ocidente”, como a maioria dos que estão lendo esta pequena reflexão, estão incluídos, melhor dizendo, até mesmo em primeiro lugar, como “fachos acesos por Deus”. Porque muita luz continua a entrar em nossa Igreja desde “o Ocidente”, na qual e da qual recebemos tanta hospitalidade e instrução (como eu recebi e recebo), e da qual continuamos a ter muito a aprender.

Ouso dizer que nossas divisões devem existir para que possamos crescer e aprender mais sobre nós mesmos, pois é mais fácil nos vermos quando estamos em contato com os “outros”. Como diz São Paulo: “É preciso que haja até mesmo cisões entre vós, a fim de que se tornem manifestos entre vós aqueles que são comprovados (“dokimoi” em grego, que significa testados e aprovados como confiáveis)” (1ª Coríntios 11,19). Graças Te dou, Senhor, por todos nós, do Ocidente, e do Norte, e do Sul, e do Oriente, e, por favor, ajuda-me a permanecer sempre dócil.

Versão brasileira: João Antunes

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