
“Protege-me, Senhor, porque em Ti esperei. Eu disse ao Senhor: ‘Meu Senhor és Tu, porque dos meus bens necessidade não tens (ὅτι τῶν ἀγαθῶν μου οὐ χρείαν ἔχεις, яко благих моих не требуеши)’.”(Salmo 15/16,1b-2, tradução da Septuaginta por Frederico Lourenço)
Deus não seria verdadeiramente o Senhor se tivesse necessidade de alguém ou de alguma coisa, ou seja, se Ele fosse de alguma forma incompleto, em si mesmo, e dependesse dos “bens” de outros para se manter completo. Como a Fonte do Bem, ou seja, como a Fonte da Vida, Ele certamente não tem “necessidade”, como dizemos na versão grega desse Salmo citado acima, de “meus bens”, ou bondade. Mas a minha “bondade” não é verdadeiramente boa, separada d’Ele, como diz o texto hebraico desse versículo do Salmo: “a minha bondade não chega à tua presença” [ACF].
Mas Deus “quer” que eu participe da verdadeira bondade, Sua vida, mesmo que Ele não “precise” que eu faça isso. Porque fora dela eu não estou verdadeiramente vivo, perdendo o panorama geral do enorme mosaico do mundo criado, do qual eu devo ser uma pequena peça brilhante e reluzente, uma das tesselas, refletindo a luz da “vida em abundância” que Ele quer compartilhar comigo. Fora de Deus, minha “bondade” permanece obscurecida e eu essencialmente “atravesso vales tenebrosos” (Salmo 22/23,4a), com vontades e “bondades” meramente humanas como minha bússola pouco confiável. É possível fazer boas obras sendo ateu, como os ateus nos recordam, mas acho a presunção deles uma chatice constante. A vida de nós, membros da Igreja, pode ser disfuncional e complicada, mas uma coisa que ela não é é chata. No entanto, sou livre para me afastar de Deus, se quiser, porque Ele me dignifica com essa escolha. Assim como Deus é livre, e não está preso a algum tipo de “necessidade” de nossos “bens”, Ele nos criou livres para escolher a Vida ou a ausência dela, que é a morte.
Hoje, escolho a Vida, não porque tenho que escolher, mas porque quero. Eu me reconecto com Deus nesta manhã, Que Se dá a todos nós livremente, “para a vida do mundo”. Graças Te dou, Deus, por nos dignificar com Tua liberdade. Que nossas muitas cores brilhem com Sua luz, nesta quinta-feira.
Versão brasileira: João Antunes
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