“Respondeu-lhes Jesus: ‘Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede. Mas já vo-lo disse: vós vistes-me e não credes. Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia’.” (João 6,35-40)
Que tema desconcertante é esse, das várias “vontades” envolvidas em nossa salvação. Nosso Senhor tenta nos explicar um pouco disso, sobre como funciona, na leitura do Evangelho de hoje, que começa instigando nossas vontades com a promessa de que, se decidirmos “vir” a Ele, não teremos mais fome nem sede. Em seguida, Ele explica os movimentos ou ações de três dos “atores” envolvidos, com base nas decisões que tomam, de acordo com suas vontades: 1. o Pai e Sua “entrega” ao Filho de todos os que O veem e creem n’Ele, de acordo com a vontade do Pai de que esses sejam ressuscitados no último dia; 2. o(s) ser(es) humano(s), todos nós, a quem o Filho “desce do Céu”, a quem é dado “ver” o Filho e — se assim escolhermos — “crer” e “vir a Ele”. Mas muitos O veem “e não creem”, portanto, não vêm a Ele. Finalmente, 3. há o “cumprimento” ativo da vontade do Pai por parte do Filho, independente do fato mencionado acima de que aqueles a quem Ele é enviado muitas vezes não creem.
Há algo útil para nós, em termos práticos, em toda essa teologia desconcertante? Acho que sim. Acho que é dignificante sermos recordados de que temos uma escolha em toda essa questão do que Deus quer para nós. “Ver” Cristo provavelmente não é realmente uma escolha, para quem está lendo isso, porque já vimos muitas vezes o testemunho ocular que nos foi transmitido sobre Ele, na tradição. Mas “crer” n’Ele e “vir a Ele” é uma escolha que fazemos todos os dias. É uma decisão que implica ações, pequenas mas importantes ações, como alimentar nossa fé desde o momento em que acordamos, “vindo” à presença de Cristo entre nós por meio de um pouco de oração sincera. A recompensa diária de “não” mais passar fome e sede no deserto do auto-isolamento e da autossuficiência faz com que isso valha a pena, mesmo que nossa fé seja pequena como um grão de mostarda. Ela é pequena e nem percebemos que está crescendo, pois a cultivamos um pouco diariamente, mas ela cresce e se torna a coisa mais útil, para nós e para os outros ao nosso redor. Acho que também é muito significativo recordar a humildade e a mansidão de Nosso Senhor em tudo isso; que Ele não está interessado em fazer com que façamos a “Sua” vontade. Ele está focado em fazer a vontade de Seu Pai e continua a fazê-la, independente de crermos ou não. Que eu escolha crer nesta manhã, confiando em Deus e em Seu Filho, Que nunca me “rejeita” quando me dirijo a Ele, mas me eleva pela graça de Seu Espírito que traz discernimento. Cristo ressuscitou! E Feliz Festa de São Nicolau para aqueles que seguem o Calendário Juliano Tradicional!
Versão brasileira: João Antunes
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