“Mais tarde, Jesus encontrou-o no templo e disse-lhe: ‘Vê lá: ficaste curado. Não peques mais, para que não te suceda coisa ainda pior’. O homem foi-se embora e comunicou aos judeus que fora Jesus quem o tinha curado. E foi por isto, por Jesus realizar tais coisas em dia de sábado, que os judeus começaram a persegui-lo.” (João 5,14-16)
Como tenho algum tempo livre no aeroporto de Viena, posso compartilhar com vocês esta pergunta que está em minha mente: O que poderia ser “pior” do que os 38 anos em que o homem agora curado ficou preso na piscina de Betesda? Provavelmente precisamos pensar de acordo com a advertência que nosso Senhor faz em Mateus 12,43ss: “Quando o espírito maligno sai de um homem, vagueia por sítios áridos, em busca de repouso, e não o encontra. Diz então: ‘Voltarei para a minha casa, donde saí’. E, ao chegar, encontra-a livre, varrida e arrumada. Vai, toma outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, instalam-se nela. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro”.
A questão aqui é que não podemos nos limitar a focar no aspecto “negativo” de nossa salvação; em nos livrarmos do(s) “espírito(s) maligno(s)”. Precisamos começar a trabalhar, enchendo nossa vida ou “casa” com a vida nova, as amizades, o serviço, as energias divinas e a beleza que Deus tem a oferecer para nós, quando nos ocupamos com isso. Caso contrário, só encheremos nossa vida com um monte de “não’s”, e isso não é nada agradável. Por exemplo, não é útil “apenas” parar de beber, se a pessoa estiver presa ao alcoolismo, porque haverá muito tempo livre depois de parar com um hábito ruim como esse, e a “casa” estará “livre”, “varrida” e “arrumada” de antigas amizades e/ou atividades sem sentido que não são mais uma opção. Haverá um vazio que, se não for preenchido com e por Deus, acabará se tornando insuportável e nosso mau hábito anterior regressará “ainda pior”, como um espírito maligno com “outros sete espíritos piores do que ele”.
Com relação ao homem curado no tanque de Betesda, não sabemos qual foi o seu “pecado”, que aparentemente o levou à situação de 38 anos em que se encontrava. Mas acho que ele deu atenção à advertência do Senhor, citada acima, e se ocupou em divulgar a palavra sobre Cristo, quando foi dizer aos judeus que foi Jesus quem o curou. Ele estava tentando ser útil a eles, para que também pudessem crer n’Ele. Alguns comentaristas pensam o contrário: que o homem curado na verdade traiu Jesus para ganhar o favor dos poderosos líderes religiosos (ou ele estava apenas desesperado para fazer amigos). Mas eu acho que ele não sabia nada sobre Jesus de Nazaré e sobre a intenção das autoridades religiosas de querer matá-l’O. Sabemos, pelo breve encontro inicial do homem com Cristo na piscina, que ele não sabia nada sobre o Homem que estava diante dele, perguntando se ele queria ser curado. Pelo menos é assim que penso sobre isso.
Versão brasileira: João Antunes
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