PAI NOSSO

Disse-lhes Jesus: ‘Se Deus fosse vosso Pai, ter-me-íeis amor, pois é de Deus que Eu saí e vim. Não vim de mim próprio, mas foi Ele que me enviou. Porque não entendeis a minha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha palavra? Vós tendes por pai o diabo, e quereis realizar os desejos do vosso pai. Ele foi assassino desde o princípio, e não esteve pela verdade, porque nele não há verdade. Quando fala mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira. Por isso, não acreditais em mim, porque vos digo a verdade’.”´(João 8,42-45)

Quando o Senhor nos ensinou a orar, as primeiras palavras que Ele nos ensinou a dizer foram: “Pai Nosso”. Porque adotar Deus como “nosso” verdadeiro Pai nos abre a possibilidade de ouvir o que Ele tem a dizer, o que outros de Seus filhos têm a dizer e nos afasta do abusivo e isolado “pai da mentira”, o diabo. O “assassino desde o princípio”, como alguém que se desconectou da Fonte de Vida, Amor e Sabedoria, não nos ama nem entende o propósito de Deus para nós, que é crescer e nos tornarmos nós mesmos, como os “eu’s” que Deus quer que sejamos, em comunhão com Ele e com o próximo.

Portanto, as versões distorcidas da realidade (também conhecidas como mentiras) do diabo sobre nós, sobre o nosso mundo e sobre nosso Deus, se optarmos por aceitá-las, não apenas nos desviam do caminho (fazendo-nos “errar o alvo” de nosso propósito), mas, consequentemente, “assassinam” a verdadeira vida em nós, impedindo nosso crescimento. O diabo distorce nossos momentos “bons” e “ruins”, por exemplo, atribuindo o “bom” a nós mesmos ou ao acaso, e exagerando o “ruim”, ou nos levando a nos concentrar nele, que permanece preso naquilo “que lhe é próprio (do diabo)”. Ele está preso, como João Damasceno explica a natureza dos seres incorpóreos (anjos e demônios), que não podem mudar tão facilmente quanto nós, porque não têm um corpo físico. A escolha que fizeram há muito tempo, de estar com Deus ou contra Ele, é uma escolha na qual provavelmente permanecerão para sempre. Se continuarmos a dar ouvidos ao “pai da mentira”, acabaremos presos à aversão a nós mesmos ou presos ao egocentrismo, o que leva ao isolamento debilitante, que é surdo e morto para Deus.

Pai nosso, hoje eu me abro para o que o Senhor tem a dizer, e não para o que o diabo tem a dizer, tanto sobre o que é bom quanto sobre o que é ruim em minha vida. Sua palavra, temperada com o “sal” de Sua sabedoria, compaixão e amor por nós, me capacita a avançar e crescer, no tipo de “mudança” em que posso acreditar; a “mudança de mentalidade” que é “arrependimento/conversão” (μετάνοια), em comunhão com o Senhor. “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal.”

Versão brasileira: João Antunes

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