“E Jesus disse-lhe [a Maria Madalena]: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: ‘Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo’. Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’. Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: ‘Rabbuni!’ — que quer dizer: ‘Mestre!’. Jesus disse-lhe: ‘Não me detenhas (Μή μου ἅπτου / Noli me tangere / Не прикасайся мне, não me toques), pois ainda (γὰρ) não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus’.” (João 20,15-17)
Maria Madalena não deve “tocar” Cristo como antes, fisicamente, “pois” Ele ainda não havia ascendido para sentar-Se à direita do Pai, de onde enviaria Seu Espírito Santo. A Ascensão foi para tirar de nós o tipo anterior de Presença física de Cristo e nos preparar para um novo tipo de Sua Presença entre nós, no Espírito Santo, em Quem nos é dado “tocar” Cristo de uma nova maneira, nos sacramentos da Igreja. Cristo está preparando Maria para essa nova realidade, porque, aparentemente, Ele sabe que ela está pronta para isso, embora Tomé, que “duvidava”, não estivesse. Por isso, foi-lhe dado tocar fisicamente as feridas do Senhor ressurreto (João 20,24-29).
Por que Cristo Se retiraria de nós, embora de modo algum nos abandone (em Sua Ascensão física), a fim de instituir os sacramentos da Igreja? Porque 1. Ele queria nos demonstrar Sua unidade com o Pai, como o “lugar” a partir do qual a graça de Deus, o Espírito Santo, é derramada sobre nós; e 2. Ele queria nos elevar, recordar-nos de nossa dignidade, mesmo quando confiou a celebração desses sacramentos a seres meramente humanos fisicamente presentes, Seus apóstolos e seus discípulos. Ele deveria capacitá-los a fazer isso com a graça invisível do Espírito Santo, e não mais com Sua própria Presença visível, da maneira como ela era “tocável” para nós durante Sua missão terrena.
Portanto, enquanto Nosso Senhor Se prepara para elevar seres humanos falíveis, os apóstolos e todos nós, para serem vasos do Espírito Santo neste mundo, Ele “ascende” ao Pai em Seu corpo humano, elevando assim nossa humanidade (em Seu corpo humano) a um “lugar” mais alto do que jamais esteve antes. Quando Ele ascende, está restaurando nossa dignidade, que perdemos quando seguimos o conselho da serpente (Gênesis 3,1-7), e que continuamos a perder sempre que nos deixamos levar pelos círculos inúteis de nossas obsessões e vícios. Hoje, permito que Ele me tire desses círculos e faço uma pausa para agradecê-l’O por me dignificar dessa forma.
Versão brasileira: João Antunes
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