“Ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença. Os seus discípulos perguntaram-lhe, então: ‘Rabi, quem foi que pecou para este homem ter nascido cego? Ele, ou os seus pais?’. Jesus respondeu: ‘Nem pecou ele, nem os seus pais, mas isto aconteceu para nele se manifestarem as obras de Deus. Temos de realizar as obras daquele que me enviou enquanto é dia. Vem aí a noite, em que ninguém pode atuar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo’.” (João 9,1-5)
Quando Jesus passou, Ele viu um homem cego de nascença, enquanto Seus discípulos viram apenas um problema teológico intrigante. A resposta do Senhor à pergunta deles: “Quem foi que pecou…?” e Sua subsequente cura do homem indicam aos discípulos (e a todos nós) que eles viram a pergunta errada. A pergunta deles deveria ter sido: “Como podemos ajudar?” ou “Como as obras de Deus podem se manifestar nele, para nós e através de nós?“.
Consideremos essa abordagem em relação às nossas próprias “cegueiras de nascença” ou àquelas “cegueiras” que outras pessoas no meio de nós possam ter, que nos tornam diferentes da maioria. Digamos que nunca tenhamos sido esportistas ou estudiosos, ou que sempre tenhamos sido surdos e não musicais, ou que sejamos realmente bons em alguma coisa, como nos dedicarmos a uma causa política, mas não nos interessarmos por outras causas; ou que sempre tenhamos sido solitários e/ou não sejamos “do tipo que se casa”, por qualquer motivo.
Será que aceitamos a nós mesmos e uns aos outros como somos, com nossos pontos fortes em uma área e pontos fracos ou, se preferir, “cegueiras” em outras áreas? Em geral, aceitamos essas diferenças comuns entre nós, sem nos preocuparmos com o “por quê?” ou “por que eu?” ou “por que meu filho?”. Ou seguimos adiante com a vida e vemos como podemos ajudar a nós mesmos e uns aos outros, quando podemos ajudar, para “se manifestarem as obras de Deus” em nós e através de nós? Quero dizer, as obras de Deus, como paciência, amor, compaixão, humildade e, finalmente, a Igreja.
Essa última, a Igreja, é o sacramento da unidade, revelado por meio da unidade de muitas pessoas diferentes, como escreve São Máximo, o Confessor, em sua Mistagogia: “Pois são numerosos e quase infinitos os homens, as mulheres e as crianças que são distintos uns dos outros e muito diferentes por nascimento e aparência, por nacionalidade e idioma, por costumes e idade, por opiniões e habilidades, por modos e hábitos, por atividades e estudos, e ainda por reputação, fortuna, características e conexões: Todos nascem na Igreja e, por meio dela, renascem e são recriados no Espírito. A todos, em igual medida, ela dá e concede uma forma e designação divinas: ser de Cristo e levar Seu nome”.
Nesta manhã, oro: Senhor, ajuda-me a aceitar a mim mesmo e aos outros, em nossas diferenças, para que possamos ver como nós, juntos, podemos realizar as obras do Senhor que nos enviou a este belo mundo.
Versão brasileira: João Antunes
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