“O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou e não agiu conforme os seus desejos, será castigado com muitos açoites. Aquele, porém, que, sem a conhecer, fez coisas dignas de açoites, apenas receberá alguns. A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido (αἰτήσουσιν).” (Lucas 12,47ss)
Ai! Como Shakespeare disse: “Inquieta é a cabeça que usa uma coroa” — também em toda a questão da custódia ou governo na “casa” de Deus. E todos nós usamos essa “coroa”, ungidos como somos no Santo Batismo, para um “sacerdócio régio” (1ª Pedro 2,9) nas diversas áreas, menores ou maiores, da “casa” de Deus, em nossas diferentes vocações. E quanto maiores forem essas áreas, sobre as quais se recebe uma maior “supervisão” (episcopado, que significa “supervisão”), que está ligada ao dom (e à cruz) de um “conhecimento” acima da média — porque se (super)visiona mais —, maiores serão os “açoites” que se leva, já neste mundo, por causa das inevitáveis falhas humanas do trabalho cotidiano. O conhecimento acarreta sofrimento, enquanto a ignorância, como dizem, é uma bênção ou, de qualquer forma, como diz o Senhor, apenas “alguns [açoites]”.
Portanto, hoje, que eu dê um descanso ao próximo e a mim mesmo, nas diferentes áreas em que nos é dado “muito” — aos líderes da Igreja, aos líderes políticos, às mentes mais brilhantes nos campos acadêmicos, aos mestres, pais e chefes em nosso local de trabalho, e assim por diante. Todos nós recebemos “açoites” já aqui, não de Deus, mas, como o Senhor diz na passagem acima, das exigências que outras pessoas fazem de nós: “a quem muito foi confiado”, diz o Senhor, “muito será pedido”. Penso que essa é uma das lições do domingo de amanhã antes de Pentecostes, dedicado aos “Santos Padres” do 1º Concílio Ecumênico: enquanto observamos e recordamos com muito mais facilidade o que os líderes da igreja (e outros tipos de líderes) fazem de errado, aqui fazemos damos um tempo para celebrar uma ocasião em que eles se reuniram e fizeram algo certo.
Demos um descanso uns aos outros hoje, para que nosso misericordioso Senhor faça o mesmo por nós, como Ele quer fazer, se apenas abrirmos nosso coração para a misericórdia. “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5,7).
Versão brasileira: João Antunes
© 2024, Ir. Vassa Larin
www.coffeewithsistervassa.com